sábado, 27 de dezembro de 2008

A CONSTRUÇÃO DE CASAS

Ter um cunhado construtor, Mark marido de Martha, me faz acompanhá-lo nas obras todas as vezes que vou a Flórida. O que me dá a oportunidade de ver obras de casas em diversos estágios, repetidamente. O princípio de construção aqui é bem diferente, é uma montagem. O construtor basicamente contrata etapas da obra e controla a qualidade de sua execução. Ele no fundo é um gerente de contratos. Cada etapa da obra é empreitada com um prestador de serviços específico. Cada especialista tem o momento certo para entrar na obra e fazer o que lhe compete. Ninguém faz força; tem instrumento, ferramenta ou equipamento para tudo. Cada contratado desses pode atuar em equipe, têm uma picape e trazem sua marmita com comida para a obra. Terminam uma casa aqui e já tem outra a fazer em outro lugar. A noite, num "happy hour" qualquer, num bar da cidade, pode-se encontrar um desses operários, convivendo com a sociedade como um membro da mesma classe. A não ser os hispânicos que também trabalham com isso, que não tenho certeza se estão legalizados no país. Para tarefas mais pesadas e simples, como varrição ou capinagem, o uso desses trabalhadores, é fundamental. Não tem americano disponível para trabalho deste tipo. Tem também aqui aquela situação já conhecida por nós aí: vem um primeiro imigrante do México ou outro país da América Central, facilmente arranja um emprego e começa a ganhar um dinheirinho. Logo manda dinheiro para vir a família e demais parentes paulatinamente. Dentro de algum tempo, formam uma equipe e todos estão aqui ganhando o que nunca ganharam, para gastar aqui e em sua terra natal. Há várias lojas que prestam serviço de envio de dinheiro para o México e países da América Central, com letreiros em suas fachadas escritos em espanhol.
O primeiro profissional na obra é o que marca o terreno com pequenas bandeirolas coloridas e faz as escavações devidas para a futura estrutura da construção, inclusive das caixas de gordura e esgoto. Depois vem um pedreiro, que faz a base da casa de concreto, já instalando no piso os tubos de entrada e saída de água, eletricidade, telefonia e outras facilidades. Nos estados que freqüento, Flórida e Arizona, o verão é muito quente e é normal que este profissional, nesta época, comece seu trabalho de madrugada, usando iluminação especial, para terminar a concretagem antes do sol esquentar; quando o calor de 50 graus ou mais se torna insuportável.
O canteiro de obras não tem barracão, ferro sendo dobrado, material estocado, betoneira trabalhando, montes de arenoso ou vigia. A construtora aluga um sanitário químico para os operários e uma caçamba para depositar entulho. Quando a obra é maior, pode ter um “trailer” ou um “container” como escritório, mas não tem barracão de madeira. Tudo da obra geralmente é comprado numa única loja de material de construção e a maior rede de lojas deste ramo é a “Home Depot”. Uma “Tend Tudo” ou “DISMEL” bem maior.
Depois da base, a construção passa a ser um trabalho de carpintaria. As paredes externas da casa são construídas a partir da fixação de barrotes onde são pregadas placas de aglomerado de madeira, revestidas internamente com material isolante de calor. Na Flórida, depois destes últimos furacões e tufões no final de 2004, voltou-se a construir estas paredes com blocos de cimento, como as casas de mais de 50 anos, que usavam tijolos de barro. Não há reboco, ferragem ou colunas, tudo tem que ser prático, montável. As portas e janelas, geralmente de ferro ou alumínio, são compradas prontas, com seus respectivos portais, em dimensões que são padronizadas. As vigas necessárias para fazer varandas ou para serem colocadas acima das janelas ou portas, são pré-fabricadas e instaladas com a ajuda de um guincho (Munk) montado num caminhãozinho que as transporta. Serão montados as tesouras e o madeirame do telhado, também compradas sob medidas padrões, que requerem poucos cortes, usando o serrote. Para formar o telhado, esta estrutura será recoberta com folhas de madeirite. Por cima disto, eles colocam mantas de asfalto, rejuntando-as usando fogo, e por cima, uma cobertura formada por pequenas placas de madeira que fazem a função de telhas. Em algumas regiões ou a depender do padrão da construção, usam-se também telhas de cerâmica, mas é mais raro.
Agora vem a armação interna que dará sustentação às paredes divisórias dos cômodos, armários embutidos, portas, etc. Nesse momento o interior da obra fica parecendo um paliteiro. Este trabalho é completado com a colocação das placas de aglomerado de madeira, revestido com material isolante de som, formando as paredes internas. Também se instalam portas, janelas e as placas do forro. Quando prontas, estas paredes não impedem que se ouça os sons dos cômodos vizinhos, a partir de outra parte da casa. Depois vem o eletricista, que deixa todos os tubos, fios e suas caixinhas no lugar, sem as tampas. Ele também instala o aquecedor central de água (boiler) e os exaustores de ar dos sanitários. Na maioria das vezes os sanitários não têm janelas para o exterior, não tem ralo fora do box para ser lavado com água (serão limpos futuramente por produtos químicos), nem tem ducha higiênica (Deus sabe por que). Nunca vi um sanitário com isto nos Estados Unidos, nem em hotéis.
Depois, vem o bombeiro que além de fazer toda hidráulica usando material plástico, também instala a tubulação de água quente em cobre, se o cliente preferir, usando solda a fogo nas conexões. Todas as torneiras internas da casa são duplas, com água quente e fria. Até as cozinhas de casas mais antigas tem um triturador elétrico de detritos no ralo da pia da cozinha, para evitar entupimentos por resíduos de alimentos. Esse profissional também instala a eventual banheira de plástico para massagem com água (que eles chamam genericamente de Jacuzzi, que é o mais famoso fabricante destas), que pode ser simultaneamente o box de banho. Usa-se muito a cortina de plástico no box dos banheiros, ao invés das portas rígidas. Outra coisa rara é torneira com rosca, geralmente elas são do tipo alavanca.
Aí vêm os que instalam o sistema de ar condicionado central, que refrigera no verão ou aquece no inverno. Até em favela de “trailer” as casas tem que ter isto, porque aqui as temperaturas são extremas, ou faz muito calor ou muito frio. Esta tarefa requer a colocação de dutos de ar grossos sobre o forro, revestidos por papel de alumínio, e saídas por grades em todos os ambientes. Feito isso, vem o técnico que tapa todas as emendas entre as placas das paredes e do teto com massa plástica, preparando-as para a pintura. O próximo é naturalmente o pintor, ressaltando-se que eles usam intensamente as texturas ao invés de tintas. O resto é montagem do fogão, geladeira, máquinas de lavar pratos, de lavar e enxugar roupa. Se a roupa for colocada para secar ao vento, fica dura, porque a umidade relativa do ar é baixíssima,. No Arizona é de cerca de 15%, quando na Bahia é de 85%. A bucha plástica de lavar pratos fica dura de um dia para o outro, quando está sem uso; dá a impressão de que vai quebrar. Tem ainda a colocação dos espelhos das caixas de eletricidade, a instalação dos carpetes (que eles usam muito) e cerâmica de piso (que pode ser imitação em plástico) no banheiro e copa. Estes eletro-domésticos fazem parte da casa e a Prefeitura só concede o “Habite-se” se estiverem funcionando. Quando uma pessoa se muda, não os leva, eles fazem parte da casa tanto quanto um sanitário. Por fim é hora de contratar uma equipe de faxina, provavelmente formada por mexicanos, outra de jardinagem para montar o gramado e a casa está pronta. Raramente constroem-se muros.A construção leva cerca de 4 a 6 meses e há inspeções parciais de fiscais da prefeitura para liberar a próxima etapa. O custo da construção é de 40 a 50 dólares, por pé quadrado (square foot), a depender do acabamento. O cunhado cobra US$60 ao cliente, quando é contratado para construir. Uma casa típica tem uns 2.000 pés quadrados. Ela tem 3 quartos, 2 sanitários, salas, varanda e garagem para 2 carros. Isto dá uma área construída em torno de 150 m2 e o preço de US$120.000,00 por casa. Ao câmbio de R$2,70 uma casa destas custaria R$324.000,00. O que é relativamente caro para os nossos padrões. Mas que é acessível ao americano da classe média, pois o governo incentiva a compra de casas, com juros baixos, prazos longos e deduções de imposto de renda. Quando um americano acaba de pagar sua casa após 20 anos, procura comprar outra para aluguel, senão o imposto de renda fica muito pesado para ele. Vale a pena investir em imóveis, pis há uma política antiga de produção de habitações e de movimentação financeira. O dinheiro circula e gera empregos. Todos ganham. Precisamos chegar a esse ponto.

O NATAL DOS AMERICANOS

Eles comemoram o Natal com o mesmo sentido que nós, já que são uma sociedade de cristãos, formada em sua maior parte neste Estado, por mórmons, protestantes de diversas igrejas (os negros geralmente são batistas) e uma grande quantidade de católicos, mais por influência da presença de mexicanos. Há ainda minorias formadas por imigrantes que para cá trouxeram o judaísmo, islamismo (vê-se mulheres com o “chador”, o véu típico que envolve a cabeça) e o budismo (principalmente pela colônia japonesa). O Natal é celebrado no dia 25 com uma ceia servida aos amigos e à família reunida ao final da tarde; na véspera não tem nada, é dia normal. É o dia em que se cozinha em casa, o que é raro no dia-a-dia do americano e isto é muito valorizado. A decoração tem o mesmo padrão adotado por nós, com mais luzes nas fachadas das casas e nas árvores dos jardins, e está presente também em automóveis e até motocicletas.
Alguns donos de casa se vestem de Papai Noel, que aqui se chama “Santa Klaus”. Todo mundo dá presente de Natal, apesar de não ter 13o Salário. As crianças esperam encontrar o seu presente ao pé da árvore de Natal e os adolescentes recebem dinheiro dos mais velhos (pai, avô, padrinho) em um envelope. A depender das condições financeiras e da idade do presenteado, uma nota de 10, 20, 50 ou 100 dólares. Há um movimento maior no trânsito de automóveis e de compradores nas lojas, na medida em que o Natal se aproxima. E não é só o brasileiro que deixa para fazer tudo na última hora. É inverno em todo o país e o sol faz seu percurso diário, sem passar pelo meio do céu. Ou seja, sua trajetória é lateral, não fica a pino, nasce e morre fazendo sombra só de um lado das casas.
Fizemos duas comemorações por aqui, uma brasileira na véspera com uma ceia noturna na casa de Cabi e a vespertina dos americanos na casa de um cunhado de Beta no dia 25. Sobre a brasileira, nada diferente do que seria aí, já que a tradição está preservada por minha irmã. Uma diferença é que não usam aqui as frutas secas, cristalizadas ou as de clima frio. Antes da ceia há biscoitos à disposição, principalmente os de chocolate conhecidos como “cookies”. Para a ceia fazem peru assado, purê de batatas, arroz, macarrão, batata doce, suflê de legumes e presunto defumado e caramelado. Toma-se vinho, cerveja , refrigerante ou água. A comida não é servida na mesa, fica nas panelas e travessas na cozinha. Quando é autorizado o início, cada um faz seu prato e vai sentar-se à mesa. Geralmente há uma mesa para as crianças, que engloba os adolescentes, e a mesa principal. A depender da crença, poderá haver uma oração de agradecimento proferida pelo dono da casa. A partir daí, comilança, fotos, sorrisos e brincadeiras próprias da reunião familiar. A sobremesa está à disposição na cozinha, com pavê, tortas (gostam muito da de maçã), sorvetes e bolos.
Ao terminar, cada um leva o prato até a cozinha, raspa o resto da comida no lixo, coloca o prato e talher na pia. Alguém então (que tanto pode ser homem como mulher) dá uma passada de água neste material, para tirar o grosso da sujeira, e arruma-o na máquina de lavar, onde já deverão estar as panelas. Todo o resto da comida é guardado em potes de plástico (genericamente chamados de “Tuperware”) e levado para a geladeira, para consumo dos de casa nos dias seguintes. Há uma cultura de não desperdiçar comida; tanto que nos restaurantes é comum pedir uma embalagem para levar o resto para casa. Ao final da operação, este material terá sido lavado pela máquina com água quente e detergente e estará praticamente enxuto. Aí então começa a operação final de acabar de enxugar com um pano de prato e guardar esse material, que deixará a cozinha como se nada tivesse acontecido ali. Ao final, um homem deverá ser solicitado para tirar o lixo e levar para fora, ao local próprio. Na casa dos americanos, depois da ceia e arrumação da cozinha, todos se reuniram em torno da árvore de Natal para fazer a brincadeira do amigo secreto. Todos os convidados foram informados que teriam que levar um presente de até 20 dólares, que servisse para homem ou mulher. Éramos 25 pessoas, alguém escreveu os números em pedaços de papel e os colocou para escolha dentro de uma vasilha levada a cada um. Os números então começam a serem chamados a partir do primeiro. Quem tem o número 1 vai até a árvore e escolhe seu presente, sem saber o que os pacotes contem e assim por diante. É permitido pegar, levantar, balançar, cheirar o pacote, só não pode abrir antes de escolher. Uma vez escolhido, deve ser aberto em público para que todos possam na sua vez optar entre pegar um presente fechado ou o de quem já o tirou antes. Quem perde para alguém o presente anteriormente retirado, vai pegar outro na árvore, de forma que todos desejam tirar o último número. Aqui também vale a brincadeira de fazer uma embalagem grande para conter um presente de tamanho pequeno. Já participei de troca de presentes como essa no Brasil, para surpresa das minhas irmãs que pensaram que isto só se fazia aqui. Só não teve presente para o cachorro da casa que de tudo participou com os cumprimentos de todos. Logo depois da entrega, todos se foram, de forma que às 20 horas tudo havia terminado.

OS VEÍCULOS E O TRÂNSITO

Como seria previsível, o trânsito é bastante organizado, sinalizado e seguro, sem a presença ostensiva de policiais. Não basta para nós brasileiros sabermos as leis gerais de trânsito com sua sinalização para dirigir aqui. Há algumas convenções que desconhecemos. Várias ruas de mão dupla tem um número ímpar de faixas de trânsito, onde a do centro não deve ser usada para trafegar, ela serve para manobrar. Quando seguimos pela rua e queremos fazer uma conversão para a esquerda, temos que passar para esta faixa, desacelerando, para aguardar o momento de fazer a manobra. Da mesma forma quando entramos numa via destas para seguir para a esquerda, primeiro vamos para esta faixa central para acelerar e entrar, esperando a vez, no fluxo do trânsito na faixa agora à direita. Nos cruzamentos, toda entrada a direita é livre, bastando aguardar a vez. Não há grande fiscalização quanto ao limite de velocidade dos carros, embora ele esteja fixado em placas. Mas a maioria dos sinais luminosos de trânsito tem câmaras para registrar quem ultrapassar indevidamente a luz vermelha. Quando tem uma placa de pare (stop) num cruzamento, não pode desacelerar, olhar e seguir. Tem que parar, mesmo que não venha nenhum carro na outra direção. E estas regras são rigorosamente observadas porque a polícia tem a surpreendente habilidade de estar presente quando o motorista menos espera. A coisa que o americano mais preza é o seu crédito e o seu bolso. E as multas de trânsito vão para o seu registro ou prontuário (o temível “record” deles). Até aí tudo bem, já que também temos pontos descontados na nossa carteira de motorista brasileira. O problema aqui é que todos têm que ter seguro de acidentes e o valor do seguro depende do “record” do motorista. Então o motorista é multado, tem que pagar a multa e será penalizado no valor da renovação anual do seguro. Se a pessoa deixar de pagar um determinado número de multas, será preso e encaminhado para um julgamento por um juiz de plantão. Isto pode significar, uma nova multa e prisão por um mês.
Quando um ônibus escolar pára, para uma criança embarcar ou desembarcar, o trânsito tem que parar nas duas direções. Isto para não criar um risco para uma criança no momento em que não há uma pessoa segurando a mão dela. Não existem carros menores (vans) fazendo transporte escolar e dirigindo como uns loucos como temos aí. As duas instituições mais respeitadas que vi por aqui não são as mulheres e os velhos, são os inválidos, as crianças e os animais domésticos (cães e gatos). Tanto que todo menor de idade deve usar capacete para dirigir uma “walk-machine”. Os motociclistas menores de 18 anos são obrigados a usar capacete, depois disso são liberados. Passa a ser obrigatória aos motociclistas apenas a proteção para os olhos. Não há fila preferencial para idosos em bancos, correio ou supermercados. Os privilégios só são dados aos inválidos, principalmente quanto às várias vagas nos estacionamentos. É preciso lembrar que, tirando as obrigações constitucionais, as leis mudam de estado para estado. As mulheres dirigindo não são vistas com o preconceito da nossa cultura.O maior risco de acidente no trânsito daqui é provocado pelos idosos que ainda dirigem e eles são muitos. Jovens tiram licença para dirigir aos 16 anos e podem aprender a dirigir com os pais. Há um primeiro período em que ele pode dirigir com um dos pais ao lado, até completar um determinado número de horas. Depois passa a dirigir sozinho até os 18 anos, sob a responsabilidade dos pais. O pátio de estacionamento das escolas é grande pois a maioria dos adolescentes (meninos e meninas) se afirma perante os demais dirigindo seu próprio carro. A maioridade para algumas coisas acontece aos 18 anos, para outras só aos 21.
Caminhonetes e Utilitários estão passando a ser o tipo de automóvel mais usado pelos americanos. Os jovens gostam de elevar bastante a suspensão do veículo colocando-lhes rodas especiais grandes e largas. Eles têm a mesma palavra “truck” para designar caminhonete ou caminhão de qualquer tamanho. E usam intensamente reboques para transportar cargas e equipamentos. É comum vermos uma caminhonete com sua área de carga desocupada enquanto o reboque leva o material. Outra coisa interessante é ver um utilitário transportando uma cadeira de rodas elétrica pendurada num suporte na traseira, como se fosse uma bicicleta. Ou um caminhão transportando uma empilhadeira pendurada na sua traseira, usada para manobrar a carga que transporta. Mudanças são feitas pelos próprios moradores, alugando reboques de vários tamanhos da empresa U-HAL, que tem filiais em todas as cidades. Cada profissional que trabalha em exteriores ou a domicílio tem a sua caminhonete com o reboque adequado para transportar seu equipamento.
Os postos de combustíveis de todos os tamanhos funcionam 24 horas com apenas um empregado que fica no caixa da loja de conveniência. Só tem gasolina e óleo diesel, não tem álcool e só são construídos em esquinas. Raras bombas de gasolina numa cidade têm um frentista para atender e quando tem, o preço é maior. O sistema é de auto-atendimento para tudo e para todos, seja o cliente homem, mulher, moço ou velho. Se o pagamento for feito por cartão de crédito, a própria pessoa passa o cartão, digita a senha, escolhe um dos três tipos de gasolina, pega na mangueira e abastece seu veículo. Se o cliente quiser pagar em dinheiro, vai antes à loja pagar e a bomba será liberada pelo caixa, por computador, para abastecer de combustível até aquele limite pago. As máquinas para lavagem da pintura dos veículos, calibragem dos pneus, água para o radiador ou aspirador de pó para passar no interior co veículo, são automáticas e funcionam com moedas. Há câmaras de vídeo por todas as partes. Vi mais uma cena interessante. Observei que em frente a uma casa de funerais, havia uma preparação para a realização próxima de um enterro. O caixão com o morto provavelmente iria ser levado para o cemitério ou crematório. E havia um carro da polícia e mais 3 batedores da polícia com suas motocicletas esperando o enterro. Perguntei a Beta: todo enterro aqui tem essa cobertura da polícia? Ela respondeu: ”Não, esta é a terra das opções. Aquelas pessoas quiseram este acompanhamento, foram na polícia e contrataram e pagaram pelo serviço público”. No Brasil, todo mundo sabe que isto se resolve com as amizades, com o jeitinho... Quem estará certo?

CHEGANDO NO ARIZONA

A frota de aviões comerciais que se vê aqui, tem o mesmo perfil da nossa, pelos seus tipos e tamanhos. Também tem uma aviação regional, feita por aviões pequenos, destes fabricados pela nossa EMBRAER e até de aviões a hélice. A diferença é o tráfego, que daqui é imenso, ao ponto de ter engarrafamento na hora da decolagem. Na região metropolitana de Phoenix, capital do Arizona, há 12 aeroportos, entre o internacional (Sky Harbour, que quer dizer Porto do Céu, bonito não?), municipais e alguns particulares de condomínios de casas de gente que tem garagem para seu avião particular.
Estamos a 3 horas de automóvel da fronteira com o México. O Arizona, juntamente com o Novo México, Texas, Nevada e a Califórnia, foram comprados ao México pelos Estados Unidos há muitos anos atrás. Por isso que há tantos nomes espanhóis: Los Angeles, San Francisco, San Diego, Los Alamos e Mesa. Por isso que os tipos físicos das pessoas aqui tem tanta aparência com os mexicanos. Tem muitos restaurantes mexicanos e os prestadores de serviço mais humildes são mexicanos. Os americanos típicos (“red neck”) são mórmons e tem preconceito racial com os mexicanos. Foi por aqui aconteceu aquele “velho oeste” do cinema. O Forte Apache virou cidade, manteve o nome “Fort Apache” e é perto daqui.
A viagem de avião da Flórida ao Arizona durou 6 horas. Isto dá uma dimensão de como é largo este país. De costa a costa (do Atlântico ao Pacífico), que eles chamam “coast-to-coast”, dá umas 8 horas. Era um vôo econômico, com uma escala, sem lugares marcados, diurno e não lotou. O pessoal de bordo veste-se de forma simples, calça padrão e camisa pólo com a marca da companhia no peito. Antes de servir, a aeromoça passou anotando o que queríamos beber. Serviram dois lanches, de uns salgadinhos em pacote, com refrigerante. Mas avisaram antes que podia levar lanche a bordo. Revistas de venda de produtos por correspondência e da companhia de aviação (Southwest). Vi alguns passageiros usando “DVD-Players” para assistir seus filmes durante o vôo. Outros usavam seus “laptops” para trabalhar. O vôo transcorreu no horário, sem irregularidades. Na saída haviam 4 funcionários da companhia com cadeiras de rodas para retirar os que precisavam delas.
Conforme combinado com a irmã Beta (Ana Elisabeth), ela estaria me esperando do lado de fora do desembarque, evitando o estacionamento. Tanto quanto aí, as pessoas também não gostam de pagar para estacionar. E não é só brasileiro não, vi carros de americanos largados nos locais reservados para pegarem as pessoas que desembarcam. Para multar os infratores há guardas circulando de “Walk-Machine”, aquela espécie de patinete motorizado que nossas crianças ricas tem.
Beta está bem. Mais magra, elegante, ela é 2 anos mais jovem que eu. Um abraço apertado e pressa para o carro não ser multado. Faziam dois anos que não nos víamos, porém nos escrevemos pela Internet freqüentemente. Ela é a irmã que veio a menos tempo para cá, há 9 anos. Cabi,a Carmem Beatriz, é a pioneira; está aqui a 35 anos, é cidadã americana, com 3 filhos e marido americano. Temos um jantar marcado para a casa de Cabi a noite.
Beta (que está esperando o “green card”, para regularizar-se perante a Imigração) mora com seu marido (casou a 3 anos) americano Ken na casa deles. Seus dois filhos brasileiros, Edgard (25) e Breno (22) moram na casa que ela comprou a 5 anos. É lá que ficarei no quarto disponível. A casa foi comprada depois de 2 anos de trabalho duro, em turno, como telefonista bilíngüe da Sprint. Agora ela é corretora de imóveis e está ganhando melhor. Os filhos trabalham como abastecedor de combustível de aviões (Edgard) e instalador de sistemas telefônicos comerciais (Breno), se sustentam, pagam as prestações de seus carros respectivos ao banco e aluguel da casa a mãe. Este é o padrão americano.
Cabi é casada com Zarco, um chicano, que é o mestiço de índio americano com mexicano. Ele é um moreno de olhos verdes. É mãe de Quetzal (23), Tizoc (16) e Zarina (13). São todos artistas, músicos, pais e filhos. Adicionalmente, Zarco é escultor e Cabi é empresária de todos. Quetzal toca numa banda e mora em Porto Rico, ilha caribenha que é território americano. Seus irmãos menores ainda estão estudando e praticam capoeira (regional) com um mestre brasileiro, nascido em Recife. Todos os sobrinhos aqui falam português.
Além destas três casas já citadas, temos uma quarta casa de Nandinho, filho de Ernando, nosso irmão mais velho que mora em Recife. Nandinho faz uma pós-graduação (MBA) em Administração, é treinador de futebol para crianças e toca numa banda de música brasileira, com músicos brasileiros. Sua irmã Rafaela, está aqui a mais tempo e já é cidadã americana. Ela engenheira eletrônica e mora em San Diego na Califórnia. Atualmente foi passar o Natal com seus pais em Recife. Para quem perdeu as contas, tenho nos Estados Unidos: 3 irmãs, 10 sobrinhos (filhos de 4 irmãos) e 1 sobrinho-neto. Em Recife são mais: 4 irmãos, 5 sobrinhos, 1 sobrinho-neto, 2 filhos e 2 netos. Tenho ainda um filho em Florianópolis.
A casa onde estou fica num condomínio de umas 50 casas conjugadas, sem portões ou vigilância. Há uma quadra de tênis, piscina e uma Jacuzzi (banheira com jatos d’água para massagem) térmica, em frente a casa. No térreo há a sala com lareira (está fazendo 10 graus ou menos, a noite), copa/cozinha (que chamamos apropriadamente de cozinha americana), dois quartos, um banheiro e um pequeno quintal cimentado com portão de serviço. No primeiro andar, na forma de mezanino, tem mais um quarto com banheiro e uma área de estar, onde estou no computador, com a televisão ligada. A máquina do sistema central de climatização, que esquenta ou refrigera a casa a depender da época do ano, fica sobre o telhado. Não há garagem, os veículos ficam estacionados externamente. Edgard tem uma caminhonete Chrisler RAM cabine dupla, nova, cara, grande e bonita; Breno um automóvel Honda Accord e Cabi me emprestou um Ford Taurus de um amigo. Como nós, todos tem celulares. Não há numeração própria para os telefones celulares, ou seja, pelo número não se sabe se é um telefone fixo ou móvel. Eles tem um sistema de “Walkie-Talkie” gratuito nos celulares. A diferença é que um fala de cada vez e não há limites de distância para falar. O alcance chega até a outras cidades. Algumas operadoras da telefonia móvel oferecem gratuidade no uso dos telefones durante o fim de semana. Neste estado não é proibido falar ao telefone enquanto dirige-se um automóvel. E se alguém pensou que brasileiro fala demais ao telefone, saiba que aqui é a mesma coisa. Os jovens então...

O AMERICANO NAS COMPRAS

Esta é uma sociedade montada em veículos. Por conta disso, todos tem um veículo, nem que seja uma bicicleta. O mais comum é que a pessoa tenha mais de um meio de locomoção. O comércio de rua que existiu no centro da cidade de Sebring, está nos seus momentos finais. Há lojas antigas ainda funcionando com uma baixíssima freqüência e outras já fechadas, com os imóveis a venda. Quase não se vê pessoas andando pelas ruas em qualquer parte da cidade. O comércio nos últimos anos desenvolveu-se ao longo de avenidas ou rodovias, onde há grandes lojas com grandes estacionamentos ou pequenos conjuntos de lojas, sempre com estacionamento. A forma de deslocar provocou a forma de comercializar dos americanos.
No seu dia-a-dia o americano freqüenta três tipos de loja: supermercado, loja de departamentos (a maior cadeia daqui é a Wall-Mart, que comprou o nosso Bompreço) ou "mall" (pronuncia-se: mol). Chama-se "shopping center" um conjunto de lojas. Nessa classificação poderíamos dizer que em Salvador, apenas o Iguatemi tem porte de "mall", o resto seria " shopping center". Eles são sempre parecidos em qualquer lugar do mundo: estacionamento, escadas rolantes, lojas de departamentos, lojas de roupa, praça de alimentação, cinemas, brinquedos para as crianças, quiosques, caixas automáticos, etc. As lojas formam o império das franquias (“franchising”). Mudam as vitrines com os produtos, pela sua diversidade, qualidade e beleza da embalagem. Os vendedores e o perfil físico dos freqüentadores mudam, pois os tipos físicos daqui são bem diferentes dos nossos. Muita gente branca, poucos hispânicos e poucos negros, que geralmente são mais feios que os negros brasileiros. Muitos são gordos. Os "mall" são cheios de velhinhos em compras ou passeando. Se a gente conhecer um desses "mall", vai ver que todos os outros são iguais no resto dos Estados Unidos. Muda muito pouco, só o tamanho, a arquitetura e a decoração.
O americano usa o cartão de crédito ou débito para pagar tudo. Usar dinheiro aqui é raridade. Até porque as operadoras de cartão dão estímulos para seu uso, como devolver em crédito 5% do que você gastou por ano em suas compras. Crédito este que pode ser usado para comprar uma passagem aérea para as férias, etc. O crédito de um americano é um patrimônio, se ele perde-lo terá dificuldade para viver. Aqui você vale o que você ganha por ano, não se pergunta o salário mensal, só a renda anual.
Eles compram vários de seus bens a crédito. Vivem pagando contas e tem vários carnês de pagamento simultaneamente; para os carros, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, móveis, etc. O que não pode é perder o crédito, senão não participa desta festa. Se a pessoa comprar um produto hoje e ele entrar em promoção na próxima semana por um preço menor, o consumidor tem o direito de pedir o reembolso da diferença que foi paga a mais. Eu assisti Martha solicitar um reembolso desse, que entra na forma de crédito na conta do cartão, e ser atendida com a maior presteza. O respeito ao consumidor aqui é antigo e não dependeu de uma lei de defesa do consumidor específica, aliás os produtores e prestadores de serviço morrem de medo de uma queixa de um consumidor. Isto pode acabar com o seu negócio, ou por indenizações caras a serem pagas ou pela queima da imagem do produto.
O supermercado é uma atração a parte, uma festa de cores. As carnes, frutas e verduras são de excelente qualidade e lindamente arrumados. Vi abacaxi por US$5 a unidade, o que dá uns R$14,00, esse é caro. Leite tem de todo tipo e qualidade, o mesmo para café, suco de laranja e Coca-Cola. Variam pelo tipo e tamanho da embalagem e pela composição. Para que se tenha uma idéia, tem Coca-Cola: dietética ou normal, com ou sem limão, com ou sem cafeína, com vários sabores (tradicional, cereja, framboesa, etc.) e em várias embalagens. Eles têm até uma latinha, que é a metade da lata de refrigerante que conhecemos, uma espécie de meia-lata. As prateleiras são uma festa de cores, sempre com grande variedade de comida pronta. A área de freezers verticais com porta de vidro é bem maior que a dos nossos supermercados, cheios de comida congelada. Leite e Suco de Laranja são vendidos em grande variedade de tipo e embalagem, principalmente em galões (3,75 litros) no tamanho do local onde é guardado, na grossa porta da geladeira duplex. Chama a atenção que estes líquidos não azedam e tem gosto natural. Não temos que nos preocupar em quantos dias faltam para o produto perder a validade e cair numa cilada. A mesma coisa acontece com o pão, que independente de ser guardado dentro ou fora da geladeira, não fica duro rapidamente.
Ainda sobre o respeito aos velhos, há sempre uns na entrada e na saída para saudar os clientes. Na entrada nos saúdam e nos dão folhetos com as promoções, na saída nos perguntam se fomos bem atendidos e nos desejam bom dia. São trabalhadores que são aposentados, mas não quiseram ficar em casa sem fazer nada. É grande a quantidade de comerciários mais velhos, como balconistas, caixas, promotores de venda, demonstradores, embaladores, repositores, etc. Atenção, eles tem embaladores, ao contrário do que os donos de supermercados no Brasil nos dizem. Se você quiser ser atendido mais rapidamente, em alguns supermercados há caixas com auto-atendimento. Você mesmo passa os produtos no leitor de código de barras, paga com seu cartão de crédito e embala suas compras. A operação é toda filmada com câmeras de vídeo estrategicamente posicionadas, não há empregados nesses caixas.
Procurando por qualquer produto brasileiro, fui à seção de café. Fiquei feliz quando encontrei os produtos da Nestlé e pensei comigo mesmo, estamos aqui. Não estávamos, o café ou é colombiano ou canadense. Nenhum produto da multinacional Nestlé do Brasil vem para cá. Estou tomando diariamente um chocolate em pó chamado Nesquik, que temos aí, onde preferimos o Nescau, que por sua vez não tem aqui. Fui à seção de bebidas em busca da nossa cachaça, encontrei no máximo uma garrafa de "aguardiente" venezuelana. Só fui encontrar um produto brasileiro na seção de carnes enlatadas, o "corned beef". Produto que só consumi na época de jovem quando ia acampar ou fazer um piquenique, naquele tempo eu comprava a viandada "Swift".
A imagem de que se come mal aqui, não é correta. A não ser que seja um turista "casquinha" ou de recursos limitados. O que nos prejudica é o câmbio de cerca de R$2,70 para cada US$1. A maioria das refeições ou pratos em restaurantes comuns fica em torno de uns US$10, o que para eles aqui é o padrão há anos. Se você for a uma churrascaria brasileira de rodízio, que fazem um tremendo sucesso nas cidades grandes daqui, cobram US$40 por pessoa, aí sai caro para nós. Já estive aqui nos saudosos tempos da paridade entre o real e o dólar e comi prato de camarão em restaurante com melhor qualidade e menor preço que no Brasil. Mas os americanos comem muito carboidrato e frituras e tem muitos obesos. A seção de petiscos e tira-gostos, daqueles que se come durante um filme na televisão, é uma das maiores nos supermercados.
Para se comprar material de construção, temos grandes lojas como a "Home Depot", que equivaleria no Brasil a uma "Tend Tudo", bem melhor é claro. O frete do material não está incluído no valor da compra, tampouco há prestadores de serviço à porta. Mas, a loja aluga caminhonetes ou pequenos caminhões para o cliente dirigir, por preços bem em conta, em torno de US$10. Nestas lojas, compra-se tudo para uma construção. No caso de areia ou brita, estão ensacadas da mesma forma que o cimento, em pesados sacos de papel grosso. Não há vergalhões de ferro para fazer uma viga, tem as vigas já prontas em dimensões padrão para a construção civil daqui. Há blocos de cimento para fazer paredes, janelas e portas prontas e já montadas em seus respectivos portais, cerâmicas, plásticos que imitam cerâmica para pisos e paredes, fogões, geladeiras, cozinhas, armários em geral, luminárias, sistema de refrigeração, ferramentas e aparelhos usados na construção, etc. Se a pessoa quiser, tendo uma planta da sua construção, pode ir comprando tudo numa loja dessas e construir sua casa. É claro que possivelmente lhe faltará habilidade para tanta coisa, pois americano se especializa naquilo que faz. Eles sabem muito sobre o pouco que fazem.
Tem ainda o comércio relacionado à morte. Os cemitérios são particulares, do tipo parque, sem muros ou vigilância especial. A gente passa por eles de automóvel, sem quase percebe-los. É normal a pessoa comprar seu funeral com antecedência, como no caso da minha irmã e seu marido. A cremação do corpo é uma opção antiga por aqui. Visitando alguns túmulos no chão, vê-se a placa com o nome da pessoa, suas datas de nascimento e morte, e o lugar reservado para receber os dados de seu cônjuge quando morrer. A pouco Martha me disse que foi fazer as unhas das mãos. Eu lhe perguntei: "Quanto custou?". Ela me disse: "Barato, 20 dólares" e emendou: "Caro mesmo é fazer o cabelo, com corte e pintura custa 80 dólares". Façam a conversão aí o dólar a R2,70, dá: mão por R$54,00 e cabelo por R$216,00. As mulheres têm uma idéia precisa do quanto custa isto.

A FAMÍLIA AMERICANA E O SEU MODO DE VIVER

Martha e Mark (marido) moram numa original e bonita casa de madeira, às margens do Lake Jackson, o maior lago da cidade. A casa tem duas frentes, uma para a rua de acesso que circunda o lago e outra de frente para o mesmo, onde eles têm um cais particular. Ali há um ambiente coberto com um conjunto de cadeiras com centro, usado para pescar, descansar e receber amigos em um churrasco. Em anexo há a garagem dos barcos com uma lancha de velocidade para passear e puxar esquis, outra lenta para pescar e um jet-ski. Entre a casa e o lago, só um gramado e uma pequena praia, que aumenta e diminui a depender do nível do lago. No inverno o lago fica mais cheio, no verão mais baixo; o lago não se comunica com rios ou outros lagos, fica isolado. Ao contrário do que eu pensava, eles não devastaram a fauna e a flora do lago que não é não poluído. Já vi patos selvagens nadando em grupo ao amanhecer, pequenas tartarugas colocando a cabeça para o lado de fora da água para respirar, garças andando e pescando pela borda, aves do tipo gaivota que mergulham n'água em pleno vôo para caçar peixes, peixes saltando, sapos coaxando. Vi ainda fotografia dos meus sobrinhos com filhotes de crocodilos pegados à mão por eles e relato sobre a existência de cobras d'água não venenosas. Além disso ainda há as aves migratórias que passam por aqui no seu vai e vem do inverno e verão. Não há registro de ataque de crocodilos a pessoas, até porque são de uma variedade que não cresce muito. Mas nunca vejo banhistas no lago.
O casal tem 3 filhos, o mais velho Brian (25) mora só, em outra casa pequena e trabalha como "barman" no hotel do autódromo; ele é pai de Donovan (2), o meu sobrinho-neto, o primeiro membro da terceira geração da minha família nos Estados Unidos. Ele me disse que viu Hélio Castro Neves, um corredor brasileiro, acidentar-se em seu carro ontem. A filha do meio é Kara (20), que trabalha com os pais e por enquanto mora com o namorado na casa de Martha; ela está se preparando para ser vizinha de Brian em outra casa. O filho mais novo Tommy (19) mora na Universidade Estadual da Flórida, em outra cidade Gainsville, onde estuda engenharia. Nenhum dos filhos de Martha sabe português, pois ela infelizmente não falou a língua pátria com eles.
O casal tem uma firma que corta grama de casas e condomínios, onde Kara (pronuncia-se: "kéura") trabalha com o namorado Alan. Mark é construtor de casas (no momento está fazendo 9 casas em lugares diferentes) e Martha é corretora de imóveis há cerca de um ano. Antes disso ela ajudava o marido com as tarefas burocráticas e financeiras. Eles pertencem à extensa classe média americana e tem uma qualidade de vida equivalente a dos nossos ricos. Aliás poucos ricos no Brasil podem ter a qualidade de vida que eles tem aqui e que não é diferente da maioria. Eles não tem formação superior, o que aqui não lhes cria barreiras. Seus vizinhos são um engenheiro civil (que tem um avião monomotor que ele mesmo pilota) e um dono de corretora de seguros (com filiais em várias cidades) do outro lado. Todos integram uma mesma classe social, são amigos e os filhos freqüentam a mesma boa escola pública da cidade.
Até o segundo grau as crianças de todas as classes sociais estudam na mesma escola pública gratuita. Já as universidades são pagas, não há universidade pública e gratuita no país. A não ser que o aluno seja um expoente do esporte, como basquetebol ou futebol americano, e é disputado com bolsas para estudar gratuitamente nas melhores universidades do país. Ter um time vencedor é uma das formas mais baratas das universidades fazerem propaganda num mercado disputado. Como a universidade aqui é considerada cara, Martha comprou a bolsa para o curso completo dos filhos durante sua infância, o que saiu bem mais barato. Atualmente ela já começou a pagar a bolsa do neto.
Como a maioria das famílias americanas, minha irmã e meu cunhado são divorciados de casamentos anteriores. No caso, cada um aqui teve 2 casamentos anteriormente. É muito comum os filhos terem pais diferentes e seguirem a mãe em sua vida e seus futuros casamentos. Ao menos este casamento parece ter alguma solidez, pois aparentam viver bem há mais de 15 anos. Nenhum dos filhos de Martha é filho de Mark, que é estéril. Mas os filhos de Martha o tratam como pai e ele se porta como tal. Isto tudo é muito comum por aqui. A propósito do direito que um pai ou mãe tem de ver o seu filho menor, se um deles negar este direito ao outro, isto se resolve na hora. O prejudicado telefona para a polícia, que vai à casa de quem está criando o caso e ameaça de prisão se a lei não for cumprida naquele momento.
A polícia daqui é a mais discreta possível, você mal percebe sua presença. E o policial daqui tem autoridade para atuar diante de qualquer situação de infração da lei. O mesmo policial, atua sobre o trânsito, prende civis, militares, menores, autoridades e quem mais infringir a lei. Quando a gente passa na frente da Delegacia de Polícia, só vê vários carros da polícia estacionados. Que são aquilo que vemos nos filmes, nem velhos, nem de luxo; porém todos bem equipados e em perfeito estado de conservação. Cada policial tem uma viatura para trabalhar e o carro passa a noite em sua casa. Se ele sair com a viatura, deve estar fardado e em serviço. Se ele estiver de folga, usa seu automóvel particular e não usa farda, naquele momento ele é o cidadão. O policial aqui passa por um concurso disputado pelos jovens, em que ele precisa ter o colegial completo e ter sua capacidade física testada. Se for selecionado, vai para a Academia de Polícia Estadual e será remunerado tanto quanto qualquer profissional especializado com esta escolaridade. Em resumo, ele é respeitado pela sociedade, tem uma vida digna e não precisa morar vizinho aos marginais que teria que combater. Ser amigo de um policial é como ser amigo de qualquer cidadão comum.
Os americanos acordam tarde e dormem cedo. Como o amanhecer aqui é em torno das 7 horas, ninguém aparece antes deste horário. Quando acordam para ir para a escola ou trabalhar, vão para a copa/cozinha (daí a tal "cozinha americana") preparar um sanduíche e tomar um líquido, que pode ser até um refrigerante como preferem os mais jovens. Se ainda houver criança em idade escolar, o ônibus passa na porta e leva para a escola, de onde ele só retornará à tardinha. Lá ele estudará, praticará esportes, terá aula de educação musical e almoçará. Tudo isto está incluído nos impostos que cada cidadão paga. Se for descoberta alguma criança fora da escola, seu responsável será preso e o Estado assumirá a tutela desta criança, garantindo-lhe o direito de ser educada. Entendam porque elas acham estranhos os nossos menores abandonados pelas ruas no Brasil, pedindo ou até trabalhando.
Depois desjejum, cada um parte para cumprir sua rotina diária e às vezes o casal se encontra numa lanchonete por volta do meio dia. Ali se faz um lanche e retornam para o segundo período de trabalho. A família se encontra de novo ao final da tarde, ainda a tempo de praticar alguma forma de lazer. No caso dos classe média aqui desta casa: esquiar no lago, dar uma volta de jet-ski, ir a academia de musculação, passar na locadora para alugar um filme (apesar de terem inúmeros canais de televisão via cabo ou satélite). Ou então, quando não se tem mais criança para cuidar, o pessoal vai para um "happy-hour" que termina por volta das 20 horas. Às 21 horas os restaurantes estão às moscas, a não ser que seja um bar no fim de semana, onde os solitários de todas as idades tentam se encontrar. Para aqueles que foram para casa ao anoitecer, é hora de fazer a última refeição do dia, ver um pouco de televisão e dormir por volta das 22 horas.
Quando as pessoas cozinham, raramente usam tempero. Quase tudo que é comprado para cozinhar vem semipronto, é só colocar num forno, seja ele de microondas ou elétrico. O tempero é acrescentado na hora de se servir, ao gosto da pessoa. Aí tem uma profusão de temperos e molhos prontos de tudo para tudo. O fogão é elétrico e as casas têm ventiladores de teto em todos os cômodos, que geralmente ficam ligados permanentemente, pois a conta da energia elétrica aqui não pesa no bolso.
Atenção especial é dada às mascotes (pets). Que em sua maioria são cães e gatos, mas tem também pássaros em gaiola, peixes em aquário, roedores, répteis, batráquios, peçonhentos em geral e o que mais aparecer a gosto do freguês. Americano cumprimenta o cão da casa do amigo quando lá entra, fazem parte da família. Todos os cães usam coleiras com identificação, são mansos e criados soltos. E o animal não precisa ser de raça pura, tem muito vira-lata por aqui. Mas todos bem gordinhos e escovados. Cachorro de rico. Já perceberam que todo Presidente dos Estados Unidos tem um cão que sempre é registrado pela imprensa? Fazer compras é uma tarefa diária e praticada com muito prazer, um verdadeiro esporte, mas este é um tema que merece um capítulo novo.

A CHEGADA EM SEBRING

O trem atrasou, o que não é normal. O horário de chegada previsto era britânico, 13:51 s. E eu pensei que assim aconteceria, com a precisão que este minuto indicava. Atrasou uns 40 minutos; agora eu aqui, comparando com a imprecisão brasileira. Não importa, foi uma boa viagem. Desço do trem e vejo ao longe Martha, ela está linda, com cabelos cheios de reflexos louros (técnica usada para esconder os brancos). Vou ao seu encontro e da minha mala. Martha está cada dia mais parecida com Ana Elisabeth, a Beta, com quem estarei no Arizona na próxima semana. Ela é mais alta que eu e 8 anos mais jovem. Um abraço e um beijo na face, um pouco de carinho, uma pequena parada para nos olharmos nos olhos. Foi um encontro após 2 anos de afastamento. Sem grande emoção, só sorrisos. Nossa diferença de idade não gerou laços tão fortes quanto com as irmãs do Arizona, que foram minhas companheiras de infância. Veio me buscar só em seu utilitário de luxo, é uma caminhonete GMC Yukon com 7 lugares. É alguma coisa parecida e melhor que uma Blazer brasileira. Quando cheguei à sua casa vi que ela também tem uma BMW esportiva conversível de 2 lugares.
A cidade é pequena e à beira da estrada e da ferrovia que cortam o estado da Flórida ao meio, em direção ao norte do país. Tem cerca de 50.000 habitantes e muitos lagos. Conheço Sebring há quase 10 anos e cada vez que venho aqui está maior. Novas avenidas, casas, comércio, gente (na maioria velhos aposentados fugindo frio do norte do continente). Sempre me impressiona a limpeza das ruas, calçadas e a pavimentação impecável das ruas. Simplesmente não há buracos nas ruas ou calçadas. Aqui ou ali se pode encontrar uma depressão ou rachadura no asfalto. Não tem areia acumulada nos cantos, todos os gramados públicos ou privados estão sempre aparados e limpos. Não há terreno baldio, às vezes há terrenos com a vegetação natural preservada. Os terrenos são gramados e estão por aí, sem muros, avisos de que tem dono ou cercas. Se um morador deixar que sua grama fique alta, a prefeitura manda uma empresa privada de jardinagem fazer o serviço e depois manda a conta e uma multa. Se a pessoa aqui deixar de pagar algumas multas, inclusive de trânsito, a polícia prende-o e leva-o para um juiz dar uma sentença na hora. Pode ficar preso e será multado pela prisão.
A cidade tem "mall” (shopping center), cinema e quase todas as franquias das principais cadeias de comida e lojas em geral, tais como: material de construção, locadoras de veículos e de filmes (Blockbuster), revendas de veículos, material para mascotes (pets) e roupa. Tem revendas (dealers) da Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki. Só que todas da linha náutica, vendem lanchas, jet-skis e, às vezes, quadriciclos. Aqui ainda não tem "dealer" da Harley-Davidson, só oficinas particulares onde podemos ver algumas em manutenção. Uma das atrações da cidade é o autódromo, vizinho a um aeroporto municipal para aviões de pequeno porte. Neste autódromo é realizada anualmente uma das corridas da Fórmula Indy, que creio chamar-se agora de Nascar. Aquela que vários brasileiros correm e Tony Canaan é o campeão. Emerson Fittipaldi também já correu nesta categoria. Não é nenhuma cidade grande, mas não se morre de tédio por aqui. As televisões por satélite ou a cabo não permitem; e ainda tem a Internet com banda larga e tudo mais.
Há muitos condomínios de casa integrados a campos de golfe. Os velhinhos saem de casa cedo, pilotando um carrinho elétrico para golfe e levam uma cesta com comida. Por volta do meio dia, param com os colegas numa sombra e fazem um piquenique. Passam o dia jogando neste grande quintal de suas casas que é o campo. Um dos melhores condomínios que conheci é exclusivo para maiores de 60 anos e é proibida, por convenção, a residência de crianças, é uma comunidade para idosos. No máximo os netos podem passar as férias, mas não podem morar. Há muitos condomínios de casas que ficam vazios durante o período de verão no norte. As casas pertencem a casais de velhos que moram no norte dos Estados Unidos e até no Canadá, que só vem para cá quando o frio ataca por lá. Passam de 6 a 8 meses cá e o resto lá, pois aqui o frio é leve e não neva, não acentuando os problemas reumáticos. Este conjunto de velhos aposentados constitui-se num excelente mercado aos prestadores de serviço, pois o que os velhinhos não podem fazer, geralmente podem pagar.
Apesar do conforto material, ninguém tem empregados. Ou se contrata um prestador de serviços para cada tarefa ou se faz. Tem faxineira diarista, jovens para fazer uma limpeza no quintal, bombeiro (encanador), eletricista, jardineiro e artesão para tudo. Ninguém pega no pesado, tem equipamento ou ferramenta para fazer qualquer coisa. Contrata-se alguém para uma tarefa, se paga e pronto. Quando eles falam em desemprego por aqui, eu acho graça. Aqui tem emprego para todos, velhos e novos, basta querer. E todos os empregos permitem uma remuneração que proporciona uma vida digna. Jovens ganham o suficiente para sair da casa dos pais e morar sozinhos. Todos têm automóveis, pois a cidade só tem ônibus escolar para levar e trazer as crianças da escola onde passam o dia. Eles também gostam de usar bicicletas. Vi vários triciclos a pedal, construídos por fabricantes de bicicletas, usados principalmente por velhinhos. Várias ruas tem ciclovia ao lado.
O dia só amanhece às 7 horas e anoitece por volta das 18. O expediente dos que trabalham começa as 9 e termina às 17 horas. Fazem um pequeno intervalo na hora do almoço para comer em lanchonetes. Ninguém faz almoço em casa, é a terra da refeição rápida, do sanduíche. É mais barato comer fora do que em casa. À noite é possível encontrar nos restaurantes e bares, todas essas pessoas que contratam ou são contratadas. Tomam umas cervejas, comem alguma coisa a mais que um sanduíche ou bebem uma sopa. A vida noturna começa e termina cedo das 18 às 22 horas, aqui vale aquele termo que importamos: "Happy Hour". Encontram-se na noite, velhos e moços, homens e mulheres, casais de todas as idades. Tem até "sapatões"; só ainda não distingui os "veados", mas perguntei a Martha. Tem? Tem, como em todo lugar. Aqui há poucos negros ou hispânicos, a maioria é americano típico ("red neck", ou pescoço vermelho). Ninguém desiste da vida, encontramos velhos e inválidos em qualquer lugar. O pai de Mark enviuvou há 2 anos atrás com 76 anos; pois já casou de novo e mudou-se para a casa da nova mulher em outra cidade. Conheci aqui uma irmã dele com 70 anos que também ficou viúva e está à procura do novo marido. Sem nenhuma afetação ou desespero, é só uma questão de tempo. Eles não tomam conhecimento do tempo, o envelhecimento é só externo. A vida continua.
A cidade ainda apresenta as cicatrizes de 4 furacões que passaram por aqui no mês passado, depois de 40 anos de ausência. Várias placas estão tortas, outras derrubadas. Há casas com o telhado coberto com plásticos, telhados arrancados ou mutilado pela queda de árvores. Só algumas casas mais antigas têm telha cerâmica, eles cobrem a casa com folhas de madeira compensada e fazem uma impermeabilização com mantas de asfalto, depois recobrem tudo com uns pedaços pequenos de madeiras simetricamente distribuídos. Os telhados das garagens e galpões são feitos com folhas grandes de alumínio ou amianto colorido. Geralmente não há muros ou cercas, às vezes apenas no quintal. Mas não há uma preocupação de fazer uma barreira intransponível. As casas não têm grade, eles fecham as portas sem preocupação em passar a chave, mais para evitar o vento frio, proteger a privacidade ou evitar a entrada dos animais. Se a porta estiver aberta , a casa pode ser visitada pelo cão ou gato do vizinho, ou um esquilo, imortalizados por Walt Disney como Tico e Teco. Em outra ocasião falarei sobre a família americana e seu modo de viver.
A VIAGEM NO TREM Já estou confortavelmente instalado numa poltrona do AMTRAK (os americanos não o chamam de trem ou ferrovia, chamam pelo nome da empresa) com destino a Sebring. Logo aparece o "comissário de bordo", um simpático funcionário da AMTRAK, que não é preto, nem é gordo, conferindo meu bilhete e fazendo anotações em uma planilha. Me deseja boa viagem e agradeço. Eu passaria a viagem apenas olhando a paisagem, a tudo observando, porém já diziam D. Anaíde (minha mãe) e outros: "Estados Unidos é Estados Unidos!". Eis que vejo que há uma tomada de corrente elétrica de 120v ao lado da poltrona. É tudo que eu preciso para ligar o laptop e escrever, pois se dependesse da sua bateria, ela só o mantêm ligado por 30 minutos. Puxo a mesinha de apoio à minha frente, semelhante a de um avião e instalo o computador. E como "Estados Unidos é Estados Unidos" espero que na minha próxima viagem, já haja também a conexão com a Internet (o que tecnologicamente não é difícil) no trem. Só quando chegar à casa de Martha é que transmitirei esta mensagem. Escrever me faz bem, pois além de registrar meus sentimentos de cada momento, é uma forma de estar perto das pessoas queridas, ao menos em pensamento. Olho pela janela do trem e escrevo um pouco. Escrevo e olho. Paro e escrevo, escrevo e paro. Um olho no padre e o outro na missa... No momento o trem se desloca lentamente, pouco barulho faz, quase que não trepida, apenas um leve balançar lateral e aquelas pequenas pancadinhas ritmadas das rodas de ferro batendo nas emendas dos trilhos. De vez em quando cruzamos uma rua, que já está interrompida ao tráfego, com as traves sinalizadoras baixas e um sininho tocando, esperando o trem passar. Ao lado da ferrovia, há uma estrada. Que estrada! Sem buracos, bem sinalizada, quatro pistas para cada lado, separadas por canteiro central com área verde e proteções em metal. O mato, ou grama, está sempre aparado; não há matagal. Uma das coisas que admiro são os caminhões. Belíssimos, enormes, deslocando-se a uma velocidade equivalente aos automóveis. Muitos estão com os vidros fechados, pois tem ar condicionado. Suas cabines são enormes e são verdadeiros apartamentos volantes de seus motoristas. Alguns transportam até casas prontas, completas; chega a ser surpreendente e engraçado: uma casa! Deverão ser colocadas em exposição numa loja ou instaladas no terreno do dono? O trânsito na autopista é mais rápido que na ferrovia.
O trem passa por trás de muitas casas pobres e vemos seus quintais. Até os pobres daqui são ricos, comparados com os nossos. Eles moram em "trailers" ou em casas construídas com pré-moldados de alumínio ou de aglomerado de madeira. Geralmente seus jardins não são bem cuidados, a pintura está gasta e quase todos tem um carro velho estacionado por perto, poucos tem garagem. Há muita tralha jogada ao redor das casas. Geralmente não tem muros, às vezes uma cerca de tela de arame ou de madeira de baixa altura. Aqui e ali um galpão comercial. Sempre no mesmo estilo arquitetônico, pintados em tons pasteis, com cercas de tela. Tudo bem varrido ao redor, alguns veículos estacionados. Raras pessoas. Quase que uma repetição.Acabo de passar por uma marina e vi muitos barcos grandes e bonitos ancorados, cheguei a pegar a máquina para fotografar, mas não deu tempo. Que bela paisagem que era.
O trem anda um pouco e logo tem uma estação ou um ponto de parada, esse trem atravessará várias cidades e estados até New York. Até agora não vi ninguém descer, só novos passageiros chegando. Sempre com aquele mesmo perfil, poucos são americanos típicos (homens avermelhados, mulheres louras carregadas de maquiagem). Passei a ter uma pessoa sentada ao meu lado. É um americano gordo, velho (possivelmente uns 70 anos), barbado e mal cheiroso. Fui saudado por ele: "Hi!" Respondi-lhe educadamente, como se britânico fosse: "Good morning, Sir". A paisagem começa a mudar, de urbana, está cada vez mais rural. É uma região de criação de gado, logo chegará a de plantação de laranja. Começo a sentir fome, mas percebi que as pessoas que passaram pelo corredor em direção ao vagão-restaurante, logo voltaram sem nada em mãos. Dirigi-me ao tal "comissário de bordo", que passa toda hora pelo corredor, perguntando se havia restaurante no trem. Ele respondeu-me que sim e que também havia uma lanchonete, mas que ambos só abririam após a estação de Palm Beach (Praia das Palmeiras). Outra coisa que chama a atenção nos lugares públicos é a presença de cadeiras de rodas para dar apoio aos idosos ou inválidos em geral. Alguns devem ter sido vítimas de acidentes, outros de guerra. Há muitos para os nossos padrões. É que aqui também os velhos não se entregam como no Brasil, eles participam de tudo. Aqui a vaga de estacionamento dos inválidos não é invadida pelos sadios, dá multa. Na estação de Palm Beach há um homem numa cadeira de rodas que é colocado numa plataforma metálica que foi empurrada até a área de embarque. A plataforma é acionada por uma manivela que torna fácil a elevação do homem em sua cadeira de rodas para embarcar na porta dos inválidos no trem. O inválido embarca e posiciona-se no lugar do vagão adequadamente preparado para receber tais pessoas. Ele usa um tapa-olho na visão esquerda e uma boina preta onde se lê na cinta que lhe circunda: "Vietnan Veteran". Pensei comigo mesmo: ele é vítima de uma guerra que nem era dele. O trem agora parou, creio que esperando um outro manobrar, vou aproveitar e conhecer o vagão-restaurante para fazer uma merendinha. A próxima estação é Sebring e o cobrador da AMTRAK virá me lembrar.

UMA VIAGEM AOS ESTADOS UNIDOS

9 DE DEZEMBRO DE 2004 EM MIAMI


Cheguei bem. Tudo saindo de acordo com o programado. Fiz um vôo diurno pela American Airlines, 8 horas de viagem. Isto depois de um vôo de 3 horas pela Varig de Salvador a São Paulo. Sai de Salvador com um horário, que teve de ser adiantado em São Paulo em função do horário de verão, para atrasar o relógio em 3 horas ao chegar em Miami. Em resumo, saí de casa ao amanhecer, estive viajando com a luz do sol, chegando ao meu destino ao anoitecer, às 18:30 horas. Nem deu tempo para cochilar, li as revistas de bordo com propaganda de vendas de produtos (alguns a gente fica tentando entender o que são) e o livro que levei comigo. Foi a primeira vez que viajei aos Estados Unidos em um avião que não era da Varig. Também foi um raro vôo vazio, com poucas pessoas e nestas ocasiões o serviço de bordo sempre melhora. E é aqui que está o diferencial entre as companhias aéreas. O serviço não foi ruim, mas o da Varig faz jus à fama de ser o melhor.
Na chegada ao aeroporto, os passageiros fazem uma longa caminhada, com subidas e descidas, seguindo setas e avisos para a Imigração. As filas diante dos inúmeros guichês estavam vazias, pois aquele não era um horário de grande número de chegadas como ao amanhecer. Sou chamado por um agente sempre frio no tratamento, como se não gostasse das pessoas que ali chegam, e apresento um formulário distribuído e preenchido no avião, junto com o passaporte. O funcionário consulta seu terminal computador, olha para a foto do passaporte e olha para mim. Pede para ver a passagem de minha volta devidamente marcada. Faz as perguntas de sua rotina (em inglês, se a pessoa não souber ele chama um intérprete): a que veio, quanto tempo pretende ficar, o que faz em seu país, etc. Quando finalmente está satisfeito das boas intenções do interrogado, bate um carimbo no passaporte e recomenda que não perca o recibo carimbado que acaba de lhe dar e que deverá ser entregue na saída do país. Sigo em direção à minha mala e encontro-a já me esperando. Ao sair com a mala, novamente tenho que mostrar os documentos a dois agentes e estou admitido em território americano.
Vi e ouvi um grupo de negros, carregadores de mala no aeroporto, falando uma língua incompreensível. Creio que falavam "creoulo", trazido da Jamaica ou de outra ilha caribenha. Todos que me atendem aqui, quando tentam se comunicar comigo, falam espanhol, pois meu tipo físico é hispânico. Há muita gente falando espanhol por aqui, que é a segunda língua dos Estados Unidos. Há vários canais de televisão em espanhol. Os hispânicos constituem-se na maior minoria racial residente nos Estados Unidos.
Na saída dirijo-me a um painel onde há fotos de vários hotéis e um telefone para ligação gratuita para os mesmos. Temos este serviço em Salvador, creio que mantido pela EMTUR (que é o órgão municipal que cuida do turismo). Persigo os menores preços, pois preciso de um hotel apenas para um pernoite. Sem sucesso. Quando não tinham vagas, não tinham um sistema telefônico que eu entendesse o que estava gravado. Saio em busca de um táxi e me deparo com o que me pareceu ser um guarda, mas que poderia ser um orientador do trânsito. Pergunto-lhe se ele sabia de um hotel bom e barato nas redondezas. Ele me indicou tomar um dos táxis azuis que cobram uma taxa tabelada, de US$ 9.70 para levar pessoas na área em torno do aeroporto. Peguei o primeiro táxi e dei a encomenda ao motorista: hotel perto, bom e barato. Ele levou-me a um simples com uma diária de US$ 70, sem os impostos que são sempre acrescentados.
O hotel é simples e típico daqui, não tem porteiro e um único recepcionista (sem farda) cuida de tudo. Não há sequer um segurança, há câmeras filmadoras de segurança. Ninguém para carregar suas malas. Pode-se entrar e sair sem ser interpelado. Mais adiante constatei também que não há telefonista, o sistema é automatizado. Para fazer ligações interurbanas ou internacionais seria necessário fazer o pagamento de uma caução. Pago antecipadamente com o cartão de crédito, conforme solicitado e mais 5 dólares em espécie como caução para receber o cartão magnético que abre a porta do quarto. Este dinheiro será devolvido na devolução da chave, quer dizer o cartão. Não tem restaurante e nem serve café pela manhã. Na portaria do hotel funciona quase uma loja de conveniências, com bebidas e guloseimas em máquinas automáticas. Outros produtos de higiene e para viajantes, são vendidos pelo recepcionista. No corredor há uma máquina que fornece gelo gratuitamente. Isso porque o quarto não tem geladeira, só um balde para gelo e um copo. Isto para você comprar sua comida e sua bebida e se servir. O quarto é bom, acarpetado e com cortinas em sua ampla janela. Tem um equipamento condicionador de ar que se apóia no chão, que esfria ou esquenta de acordo com seu desejo. Um pequeno guarda-roupa embutido e uma cômoda com 3 gavetões onde se apóia um televisor grande com controle remoto, que já estava lá. Uma cama de casal forrada com os lençóis, travesseiros e sua respectiva colcha, ladeada por 2 mesas de cabeceira, uma com o telefone. Evidentemente que há uma lista telefônica local e uma bíblia dentro de uma das gavetas. O mobiliário se completa com uma mesa redonda com 2 cadeiras. Um amplo banheiro, onde a banheira é ao mesmo tempo o box do chuveiro. Balcão grande com espelho e pia com torneiras para água quente ou fria. Aliás em todo os Estados Unidos só não há água quente na torneira do jardim. Saí para lanchar numa lanchonete próxima e dormi muito bem após uma rápida incursão pela televisão local.
É manhã do dia 9 de dezembro de 2004, faz sol e a temperatura em Miami está igual a daí. Escrevo em meu “laptop” ligado a uma tomada da parede. Estamos a 2 horas a menos que Salvador. Nem parece que é inverno, o céu é azul, com poucas nuvens e o sol brilha. No momento estou esperando o trem para Sebring, interior da Flórida, onde mora a irmã Martha. Farei uma viagem confortável, no ar condicionado, por 3 horas. A ferrovia aqui perdeu o lugar para o avião no transporte de passageiros. Meus colegas de viagem são negros, latinos ou velhos. Quer dizer, só os mais pobres usam trem por aqui. Paradoxalmente, os vagões dos trens são mais confortáveis que a classe econômica dos aviões. Quase todos os funcionários da ferrovia, a empresa chama-se AMTRAK, são negros e gordos. Estou me sentindo ótimo neste meu corpinho; aliás eu estou muito bem para os parâmetros locais. As mulheres negras são sempre criativas em seus penteados. Criam verdadeiras torres de cabelo e por vezes ainda o pintam de vermelho! É o bicho! Algumas assumem a negritude africana com trancinhas, outras o mantêm bem liso. Tem cada figura... A estação começa a ficar mais movimentada (muito menos que um aeroporto). Aproxima-se a hora da partida para Sebring.
PARECER TÉCNICO SOBRE O REGISTRO DE CÃES



Em nome da verdade e no sentido de contribuir para o restabelecimento da harmonia entre os cidadãos que amam e criam cães de raça pura, emito o seguinte parecer.
Em todos os países o controle sobre a criação de animais, quando existente, foca-se exclusivamente sobre os chamados animais de produção, assim conhecidos aqueles que são utilizados para a alimentação humana. O poder público não tem interesse no controle sobre a criação de animais domésticos, que geralmente é feito livremente por associações de criadores. Assim é o costume do que também acontece no Brasil, para registrar animais de raça pura das espécies caninas, felinas e outras. Desta forma as instituições que se dedicam a tal mister, fazem o registro genealógico com a subseqüente emissão de “pedigrees”, exclusivamente a partir das declarações dos interessados.
Existem três entidades que cumprem com esta tarefa no nosso país, para o registro de cães de todas as raças. Pela ordem de número de registros elas são: CBKC – Confederação Brasileira de Cinofilia, ACB – Associação Cinológica do Brasil e a SOBRACI – Sociedade Brasileira de Cinofilia. Existem ainda duas associações para o registro específico de duas raças, que são: a SBCCPA – Sociedade Brasileira de Criadores de Cães Pastores Alemães e o CAFIB - Clube de Aprimoramento da Raça Fila Brasileiro. Todas exercendo os mesmos direitos constitucionais da livre associação, com renda própria, regulamentos próprios e corpo de associados próprios. Dir-se-ia que o “pedigree” de qualquer uma vale tanto quanto o de outra. Posto que registram-se os animais da mesma forma, a partir de declarações dos donos de fêmeas e machos envolvidos na reprodução. Estas entidades remuneram-se desta prestação de serviço cartorial, sem exclusividade ou qualquer interferência governamental que desse destaque ou cunho “oficial” a qualquer uma delas. Todas são iguais perante a lei, portanto os documentos que emitem idem.
Abusando da condição de ser a maior, a CBKC adota uma atitude monopolista de tentativa de desqualificação dos documentos (“pedigrees”) emitidos pelas suas congêneres, vistas pela mesma como concorrentes, o contrário não acontece. Como se não estivéssemos num país onde o cidadão tem o direito de escolha. Não bastando o uso da artimanha, a CBKC tenta ainda implantar a falácia de que só os seus “pedigrees” tem validade internacional. Ao tempo que se desconhece qualquer intervenção do nosso Ministério das Relações Exteriores, o Itamarati, nos assuntos relacionados ao registro e o controle da criação de cães, bem como o seu intercâmbio de outros países com o Brasil. O que há é que, em busca de uma imagem de validade internacional dos seus atos, a CBKC filiou-se a uma certa FCI – Federação Cinológica Internacional, com sede na obscura cidade de Thuin, na Bélgica. Esta FCI não emite pedigrees, não forma árbitros de exposições, tampouco realiza concursos, como as exposições caninas; sendo exclusivamente uma instituição arrecadadora de fundos, que “aluga” este presumível “selo de reconhecimento internacional”.
As maiores cinofilias (criação de cães de raça pura) do mundo são praticadas nos países: Estados Unidos, Inglaterra (berço da cinofilia) e Canadá. Como no Brasil, nestes países há vários clubes e federações; nenhuma delas é filiada a FCI. Cito por exemplo, alguns clubes cinófilos de âmbito nacional dos Estados Unidos, para registro de cães de qualquer raça: AKC – American Kennel Club, UKC – United Kennel Club, ARBRA – American Rare Breeds Association, ADBA – American Dog Breeders Association, FIC – Federation of International Canines. Há ainda centenas de clubes especializados no registro de cães de raças específicas. Em qualquer uma deles um “pedigree” brasileiro poderá ser aceito, pois eles não manifestam qualquer veto a qualquer “pedigree” emitido por entidade estrangeira, muito menos especificamente os emitidos pela ACB. Portanto estas instituições poderão validar qualquer documento, aceitar qualquer cão em exposições, convidar qualquer juiz de qualquer instituição estrangeira. E assim o fazem.
Eu mesmo, um membro não filiado a CBKC e sim a ACB, já arbitrei exposições por duas vezes (em 1997 e 2002) nos Estados Unidos, a convite do FBA – Fila Brasileiro Association, na cidade de Dallas, no estado Texas. Estou de novo convidado a repetir este trabalho em novembro deste ano de 2005. Este clube aceita qualquer “pedigree” brasileiro e não mantêm subordinação com a FCI ou a CBKC, tampouco a qualquer outro clube. A exemplo do que ocorre em todo mundo, é um clube independente, mantido pelos seus sócios e livre de tutela de governo ou de qualquer outra instituição cinófila. Por outro lado, nos países em que há clubes filiados a FCI, há inúmeros outros clubes que não o são e que portanto reconhecem os “pedigrees” de clubes também não filiados a FCI. A prática da cinofilia no Brasil não é exclusividade da CBKC e no mundo não é de clubes filiados a FCI.
Tenta assim a CBKC fazer com que a sociedade brasileira pense que a mesma é única em sua função e que a FCI, sua projeção internacional, é única no mundo. Por conseqüência, se assim fosse, quem não possuísse um cão com “pedigree” emitido por sua instituição, estaria privado de participar da cinofilia. Tudo isto é uma grande falácia que tem contribuído para implantar a cizânia entre os homens de bem do país que criam e amam seus cães.
Salvador, 23 de maio de 2005.



Eduardo Jorge Barbosa de Novais
Cinófilo desde 1971
Dono de uma biblioteca cinófila com mais de 500 volumes
Articulista com trabalhos publicados na maior revista cinófila do Brasil
Palestrante de temas cinófilos no Brasil e nos Estados Unidos
Árbitro de exposições cinófilas, habilitado para julgar todas as raças, desde 1994
Apresentador do programa “Dia de Cão” na TV Aratu, desde 1999
Presidente, pela terceira vez, do Kennel Clube da Bahia
Fundador do Clube Baiano do Fila Brasileiro
Fundador do Clube do Rottweiler da Bahia
Fundador e primeiro Presidente do Kennel Clube de Sergipe
O QUE É A FCI



A FCI – Federação Cinológica Internacional se define como (conforme http://www.fci.be/): “The Fédération Cynologique Internationale is the World Canine Organisation. It includes 80 members and contract partners (one member per country) that each issue their own pedigrees and train their own judges. The FCI makes sure that the pedigrees and judges are mutually recognized by all the FCI members.”
Traduzindo livremente: “A Federação Cinológica Internacional é a Organização Canina Mundial. Ela inclui 80 membros e parceiros contratados (um membro por país) que emitem seus próprios pedigrees e treinam seus próprios juízes. A FCI garante que os pedigrees e juízes sejam mutuamente reconhecidos por todos os membros da FCI.”
Foi fundada em 22 de maio de 1911, como forma de congregar clubes que formavam parte da cinofilia européia continental, em especial dos países: Bélgica, Alemanha, Áustria, França e Holanda. Tem sede na pequena e pouco conhecida cidade de Thuin, na Bélgica.
Conforme descrita por si mesma, esta FCI não emite pedigrees, não forma árbitros de exposições, não publica ou patrocina a edição de estudos cinófilos, não contribui para a pesquisa científica relacionada à saúde dos cães ou da transmissão das mesmas ao homem (zoonoses), tampouco realiza concursos, como as exposições caninas de beleza, provas de trabalho para cães ou do esporte canino conhecido como “agility”.
É uma ONG – Organização Não Governamental, arrecadadora de fundos para organizar um Calendário Internacional de Eventos e emitir títulos promocionais aos cães, como o de Campeão Internacional de Beleza ou de Trabalho; em tudo muito útil aos clubes que em seus países carecem de uma referência estrangeira, como forma de cooptar associados e incautos.
É o caso de alguns clubes localizados na Europa, América Latina (a América pobre), Ásia, África e uns poucos da Oceania. E que não é o caso das três maiores cinofilias do mundo, pela ordem: Estados Unidos, Inglaterra e Canadá, que não tem nenhum clube filiado a FCI.
Existem três entidades que registram cães de cães de todas as raças no Brasil. Pela ordem de número de registros elas são: CBKC – Confederação Brasileira de Cinofilia (a filiada local da FCI), a ACB – Associação Cinológica do Brasil e a SOBRACI – Sociedade Brasileira de Cinofilia.
Existem ainda no Brasil associações para o registro específico de raças, que já buscam liberdade das taxas e normas impostas pela CBKC no Brasil, até mesmo porque o lhes importa é a filiação a instituições ligadas às raças a que se dedicam, em seus países de origem. Elas são: APRO – Associação Paulista do Rottweiler e a SBCCPA – Sociedade Brasileira de Criadores de Cães Pastores Alemães, ambas interessadas em manter convênios com alemães que criaram e mantêm com zelo suas respectivas raças.
Caso especial é o CAFIB - Clube de Aprimoramento da Raça Fila Brasileiro, (conforme: http://www.cafib.com.br), formada por criadores que cansados dos desmandos dos dirigentes da CBKC e sem ter qualquer filiação a FCI, desde 1978, mantêm seu Livro de Registros próprio (“stud-book”), trabalha pelo desenvolvimento da raça que os congrega, e tem associados que criam e vendem animais, principalmente a criadores dos Estados Unidos de países europeus.
Os brasileiros da CAFIB dão uma prova cabal de que a cinofilia não é exclusividade de clubes, muito menos precisa ser respaldada por instituições internacionais, antes disso provam que a cinofilia é uma prática amadorística, que quando feita por homens de bem, encontra quem os aprecie e os mantenha.
Salvador, 8 de junho de 2006.




Eduardo Jorge Barbosa de Novais
Cinófilo desde 1971
Brasileiro, Administrador, Professor Universitário
Dono de uma biblioteca cinófila com mais de 500 volumes
Articulista com trabalhos publicados na maior revista cinófila do Brasil
Palestrante de temas cinófilos no Brasil e nos Estados Unidos
Árbitro de exposições cinófilas, habilitado para julgar todas as raças, desde 1994
Apresentador do programa “Dia de Cão” na TV Aratu/SBT/Salvador, desde 1999
Presidente, pela terceira vez, do Kennel Clube da Bahia
Fundador do Clube Baiano do Fila Brasileiro
Fundador do Clube do Rottweiler da Bahia
Fundador e primeiro Presidente do Kennel Clube de Sergipe
CRÔNICA DE UM REENCONTRO APÓS 39 ANOS


Eduardo Jorge, dezembro de 2005


Há cerca de 12 anos atrás, passando o período natalino em Recife, procurei o mais visível dos nossos colegas, Armando Monteiro Neto. Encontrei-o na NORAÇO, indústria metalúrgica fundada pelo seu pai, perto da casa de meus pais em Afogados. Acho que ele já era então Presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco. A seguir Armando elegeu-se deputado federal e Presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria e passamos a vê-lo freqüentemente nos telejornais.
Deste agradável reencontro, guardei na memória uma informação de Armando. Otacílio Diogo almoçara no Restaurante Leite e mandou um recado por um garçom de que ele era médico nefrologista e morava em San Diego, na Califórnia.
Evidente que coube a mim, morador do Brasil, iniciar os contatos. O primeiro foi de novo com o visível Armando. Mandei uma mensagem via Internet para sua caixa postal eletrônica como deputado federal (dep.armandomonteiro@camara.gov.br), mas com uma recomendação no título: MENSAGEM PESSOAL – FAVOR ENCAMINHAR. Eu faria uma tentativa de conciliar a vinda de Diogo a Recife, com a carregada agenda de compromissos de um candidato a governador de Pernambuco. E nós vamos ajuda-lo chegar lá.
Enquanto isso eu usava a informática para tentar localizar os nomes que eu lembrava. Usei o localizador de pessoas do “Yahoo” e os “sites” das editoras de listas telefônicas de Pernambuco: Editel e Telelistas. O sobrenome Hawatt é incomum e eu achei uma pessoa no “Orkut” com tal sobrenome. Era o filho do nosso Hawatt, o Felipe. Estávamos em maio e eu plantava a semente do encontro em Recife. Hawatt comprou a idéia de primeira e estava envolvido na caça aos ex-colegas, onde foi inexcedível.
Diogo esteve em Recife no final de novembro e Armando só teria disponibilidade nos dias 5 ou 9 de dezembro. Assim me foi comunicado pela sua secretária na CNI, D. Cirléia Villaça. Paciência, não daria para ter todos neste ano. Informei a Diogo que nós iríamos tentar assim mesmo, sem ele, pois serviria de prévia para o próximo ano.
Fizemos o curso ginasial de 1963 a 1966, que chegou a ter duas turmas, a da manhã e a da tarde, posteriormente fundidas pela manhã. Faremos 40 anos de conclusão em 2006. Alguns de nós foi colega desde o curso primário, onde fomos alunos de Dona Lúcia (a bela que me trocou por Rozendo, o secretário) e Dona Maria Odete. Boa parte da turma se dispersou para fazer o 2º grau. O pessoal que foi fazer Direito, dirigiu-se ao Curso Clássico e a maioria, que precisava saber matemática, física e química, fez o curso Científico, alguns em outros colégios. O Colégio São João voltou a ter este curso com a nossa turma.
Não havia mais tempo a perder, defini o local, a data e informei à secretária de Armando e a Hawatt. O Restaurante Leite foi o local escolhido, ele é o mais tradicional de Recife. Todos tem uma história ou um desejo relacionado a ele. A data de 9 de dezembro de 2005 seria uma sexta-feira enforcada pelo feriado de Nossa Senhora da Conceição. Hawatt reservou uma mesa para 10 pessoas a partir das 12 horas.
Tentei localizar os “baianos” Milton Bezerra e Maurílio Andrade, que como eu vieram para Salvador. Milton agora está no Rio de Janeiro e o nosso dentista pernambucano Edson Manchester, me deu seu telefone. Quando consegui falar com Maurílio, já estava muito próximo do evento. Este ano não deu para ele ir.
Fui o primeiro a chegar no Restaurante, eram 11:30 horas, tirei fotos do ambiente ainda vazio e passei a prestar atenção nos senhores que entravam. Finalmente, em torno das 12:15 horas, chegou um primeiro senhor que me pareceu familiar, era Murilo Canavarro, o Mérilou (tem uma pseudo-pronúncia inglesa, que é onde está o charme, coisa da nossa adolescência). Murilo usa um cavanhaque que de longe lembra o bigodão que seu pai ostentava. Eu sou o “Tolet”, no tal inglês é claro; que deixo de “traduzir” o que todos já sabem.
Foram ainda chegando numa ordem que já não lembro: Jorge de Abreu, Milton Bezerra, Armando Areias e Paulo Rangel. Cláudio Bruno e Hawatt chegaram juntos e com uma história engraçada. Tínhamos o telefone de Cláudio que não atendia, até que num contato de última hora, Hawatt me pediu o endereço dele, resolveu ir lá. Cláudio não estava em casa e Hawatt fez plantão em sua porta aguardando que ele chegasse para o almoço. Foi quando encontrou um prestador de serviços que vinha trazer do conserto sua máquina de lavar roupa. Cláudio não reconheceu Hawatt, que se aproximou dizendo-se policial federal, que havia encontrado drogas dentro de sua máquina. Num diálogo rápido e engraçado, Cláudio eximiu-se de culpa e estava disposto a dispensar o “policial”. Daí Hawatt apresentou-se e intimou Cláudio a vir com ele, naquele momento, para o almoço.
A vinda de Paulo Rangel também foi intempestiva (usando a linguagem dele, advogado que é). Ficou sabendo de última hora e desprezou todos os compromissos pelo resto do dia. Passou a tarde recebendo telefonemas no celular e dando desculpas; a alguns ele nem atendia. Paulo disse-nos que já havia realizado aquele encontro, mentalmente, inúmeras vezes. Paulo extravasou sua satisfação na quantidade de doses dos três litros de “Black Label” que foram consumidos pelo grupo naquela tarde. E o tempo inteiro ressaltava a preferência do Padre Oséas pelo nosso expoente da matemática, Milton.
Armando Areias não pode demorar muito conosco, por força de compromissos anteriores. Não chegou a almoçar, pois o almoço só foi servido às 16:30 horas. Ronaldo Pomposo não chegou a encontrá-lo, pois chegou mais tarde e também não pode almoçar. Ficou cerca de uma hora conosco e foi cuidar se seus clientes italianos, prestes a fechar um bom negócio. O último mesmo a chegar foi Armando Monteiro, lá pelas 16 horas. Desde cedo na tarde que sua secretária monitorava o que acontecia, informando que ele estava em Caruaru dando uma entrevista, mas que viria.
Ninguém se apressou para almoçar, o uísque rolava solto, os tira-gostos também, mas principalmente a conversa era o que mais interessava. Atualizamos nossos dados em uma planilha, onde também íamos lembrando de novos nomes e apelidos ainda não anotados. Além da vida que cada um tem hoje, os casamentos, filhos, netos, empregos e a lembrança dos colegas ausentes, o tema só podia ser o nosso querido Colégio São João. Lembramos dos padres: Dimas, Oséas, Leopoldo (que soubemos estar cego), Carlos, Roberto, Abelardo (Jorge de Abreu tentará um contato com o mesmo para estar conosco em 2006), Estevão, André (na época veado, hoje promovido a pedófilo...). Saudades do Capitão Sobreira e suas aulas de Educação Física. Lembramos dos colegas que já morreram: Paulo Menelau, Paulo Andrade Lima (irmão louro de Ivan). Lembramos ainda de Dom Borghi, que morava no colégio e dirigia o Centro de Física Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco. Foi feita enquête de quem assaltava a despensa dos padres e lembramos das nossas histórias nos Jogos Colegiais. Por fim não faltaram inconfidências sobre visitas noturnas secretas dos nossos queridos predecessores, a uma certa dama da vizinhança, que ressaltava os dotes do Padre Dimas. Foi tudo muito engraçado e às vezes emocionante. Estivemos entre sorrisos e lágrimas nos olhos.
A mulher de Milton juntou-se a nós ao final da tarde, a tempo ainda de beliscar e bebericar um pouco. E duas outras foram convocadas para rebocar seus respectivos. Paulo Rangel ainda teve forças para convencer a sua mulher, de quem um dia já separou e casou de novo, a vir busca-lo. Mas a de Murilo foi convocada por Armando, pois o marido adormeceu. Mas antes disso ele registrou sua alegria com tudo e com todos, dizendo repetidamente o seu: ”É de se fuder...!”.
A farra terminou em torno das 18:30 horas, com todos prometendo retorno no próximo ano e a expectativa de mais adesões.

P.S.: veja as fotos deste encontro em http://br.groups.yahoo.com/group/colegiosaojoao/

sábado, 6 de dezembro de 2008

Apresentação

Sou Eduardo Jorge Barbosa de Novais, por obra e graça de Anaíde e Zé Novais. Mas meus amigos simplificaram a comunicação e me chamam de Dudu. Em família, eu sou Jorge. Sou pernambucano de Recife, 57 anos, administrador, professor da Universidade Católica do Salvador, Bahia, onde moro a 30 anos. Amante dos animais, especialmente os cães e os gatos. Sou árbitro de exposições caninas e presido o Kennel Clube da Bahia. Me locomovo através das motocicletas, pela qual tenho paixão. Amo uma linda mulher, morena, baiana, que meus amigos sabem quem é.