sábado, 27 de dezembro de 2008

A CONSTRUÇÃO DE CASAS

Ter um cunhado construtor, Mark marido de Martha, me faz acompanhá-lo nas obras todas as vezes que vou a Flórida. O que me dá a oportunidade de ver obras de casas em diversos estágios, repetidamente. O princípio de construção aqui é bem diferente, é uma montagem. O construtor basicamente contrata etapas da obra e controla a qualidade de sua execução. Ele no fundo é um gerente de contratos. Cada etapa da obra é empreitada com um prestador de serviços específico. Cada especialista tem o momento certo para entrar na obra e fazer o que lhe compete. Ninguém faz força; tem instrumento, ferramenta ou equipamento para tudo. Cada contratado desses pode atuar em equipe, têm uma picape e trazem sua marmita com comida para a obra. Terminam uma casa aqui e já tem outra a fazer em outro lugar. A noite, num "happy hour" qualquer, num bar da cidade, pode-se encontrar um desses operários, convivendo com a sociedade como um membro da mesma classe. A não ser os hispânicos que também trabalham com isso, que não tenho certeza se estão legalizados no país. Para tarefas mais pesadas e simples, como varrição ou capinagem, o uso desses trabalhadores, é fundamental. Não tem americano disponível para trabalho deste tipo. Tem também aqui aquela situação já conhecida por nós aí: vem um primeiro imigrante do México ou outro país da América Central, facilmente arranja um emprego e começa a ganhar um dinheirinho. Logo manda dinheiro para vir a família e demais parentes paulatinamente. Dentro de algum tempo, formam uma equipe e todos estão aqui ganhando o que nunca ganharam, para gastar aqui e em sua terra natal. Há várias lojas que prestam serviço de envio de dinheiro para o México e países da América Central, com letreiros em suas fachadas escritos em espanhol.
O primeiro profissional na obra é o que marca o terreno com pequenas bandeirolas coloridas e faz as escavações devidas para a futura estrutura da construção, inclusive das caixas de gordura e esgoto. Depois vem um pedreiro, que faz a base da casa de concreto, já instalando no piso os tubos de entrada e saída de água, eletricidade, telefonia e outras facilidades. Nos estados que freqüento, Flórida e Arizona, o verão é muito quente e é normal que este profissional, nesta época, comece seu trabalho de madrugada, usando iluminação especial, para terminar a concretagem antes do sol esquentar; quando o calor de 50 graus ou mais se torna insuportável.
O canteiro de obras não tem barracão, ferro sendo dobrado, material estocado, betoneira trabalhando, montes de arenoso ou vigia. A construtora aluga um sanitário químico para os operários e uma caçamba para depositar entulho. Quando a obra é maior, pode ter um “trailer” ou um “container” como escritório, mas não tem barracão de madeira. Tudo da obra geralmente é comprado numa única loja de material de construção e a maior rede de lojas deste ramo é a “Home Depot”. Uma “Tend Tudo” ou “DISMEL” bem maior.
Depois da base, a construção passa a ser um trabalho de carpintaria. As paredes externas da casa são construídas a partir da fixação de barrotes onde são pregadas placas de aglomerado de madeira, revestidas internamente com material isolante de calor. Na Flórida, depois destes últimos furacões e tufões no final de 2004, voltou-se a construir estas paredes com blocos de cimento, como as casas de mais de 50 anos, que usavam tijolos de barro. Não há reboco, ferragem ou colunas, tudo tem que ser prático, montável. As portas e janelas, geralmente de ferro ou alumínio, são compradas prontas, com seus respectivos portais, em dimensões que são padronizadas. As vigas necessárias para fazer varandas ou para serem colocadas acima das janelas ou portas, são pré-fabricadas e instaladas com a ajuda de um guincho (Munk) montado num caminhãozinho que as transporta. Serão montados as tesouras e o madeirame do telhado, também compradas sob medidas padrões, que requerem poucos cortes, usando o serrote. Para formar o telhado, esta estrutura será recoberta com folhas de madeirite. Por cima disto, eles colocam mantas de asfalto, rejuntando-as usando fogo, e por cima, uma cobertura formada por pequenas placas de madeira que fazem a função de telhas. Em algumas regiões ou a depender do padrão da construção, usam-se também telhas de cerâmica, mas é mais raro.
Agora vem a armação interna que dará sustentação às paredes divisórias dos cômodos, armários embutidos, portas, etc. Nesse momento o interior da obra fica parecendo um paliteiro. Este trabalho é completado com a colocação das placas de aglomerado de madeira, revestido com material isolante de som, formando as paredes internas. Também se instalam portas, janelas e as placas do forro. Quando prontas, estas paredes não impedem que se ouça os sons dos cômodos vizinhos, a partir de outra parte da casa. Depois vem o eletricista, que deixa todos os tubos, fios e suas caixinhas no lugar, sem as tampas. Ele também instala o aquecedor central de água (boiler) e os exaustores de ar dos sanitários. Na maioria das vezes os sanitários não têm janelas para o exterior, não tem ralo fora do box para ser lavado com água (serão limpos futuramente por produtos químicos), nem tem ducha higiênica (Deus sabe por que). Nunca vi um sanitário com isto nos Estados Unidos, nem em hotéis.
Depois, vem o bombeiro que além de fazer toda hidráulica usando material plástico, também instala a tubulação de água quente em cobre, se o cliente preferir, usando solda a fogo nas conexões. Todas as torneiras internas da casa são duplas, com água quente e fria. Até as cozinhas de casas mais antigas tem um triturador elétrico de detritos no ralo da pia da cozinha, para evitar entupimentos por resíduos de alimentos. Esse profissional também instala a eventual banheira de plástico para massagem com água (que eles chamam genericamente de Jacuzzi, que é o mais famoso fabricante destas), que pode ser simultaneamente o box de banho. Usa-se muito a cortina de plástico no box dos banheiros, ao invés das portas rígidas. Outra coisa rara é torneira com rosca, geralmente elas são do tipo alavanca.
Aí vêm os que instalam o sistema de ar condicionado central, que refrigera no verão ou aquece no inverno. Até em favela de “trailer” as casas tem que ter isto, porque aqui as temperaturas são extremas, ou faz muito calor ou muito frio. Esta tarefa requer a colocação de dutos de ar grossos sobre o forro, revestidos por papel de alumínio, e saídas por grades em todos os ambientes. Feito isso, vem o técnico que tapa todas as emendas entre as placas das paredes e do teto com massa plástica, preparando-as para a pintura. O próximo é naturalmente o pintor, ressaltando-se que eles usam intensamente as texturas ao invés de tintas. O resto é montagem do fogão, geladeira, máquinas de lavar pratos, de lavar e enxugar roupa. Se a roupa for colocada para secar ao vento, fica dura, porque a umidade relativa do ar é baixíssima,. No Arizona é de cerca de 15%, quando na Bahia é de 85%. A bucha plástica de lavar pratos fica dura de um dia para o outro, quando está sem uso; dá a impressão de que vai quebrar. Tem ainda a colocação dos espelhos das caixas de eletricidade, a instalação dos carpetes (que eles usam muito) e cerâmica de piso (que pode ser imitação em plástico) no banheiro e copa. Estes eletro-domésticos fazem parte da casa e a Prefeitura só concede o “Habite-se” se estiverem funcionando. Quando uma pessoa se muda, não os leva, eles fazem parte da casa tanto quanto um sanitário. Por fim é hora de contratar uma equipe de faxina, provavelmente formada por mexicanos, outra de jardinagem para montar o gramado e a casa está pronta. Raramente constroem-se muros.A construção leva cerca de 4 a 6 meses e há inspeções parciais de fiscais da prefeitura para liberar a próxima etapa. O custo da construção é de 40 a 50 dólares, por pé quadrado (square foot), a depender do acabamento. O cunhado cobra US$60 ao cliente, quando é contratado para construir. Uma casa típica tem uns 2.000 pés quadrados. Ela tem 3 quartos, 2 sanitários, salas, varanda e garagem para 2 carros. Isto dá uma área construída em torno de 150 m2 e o preço de US$120.000,00 por casa. Ao câmbio de R$2,70 uma casa destas custaria R$324.000,00. O que é relativamente caro para os nossos padrões. Mas que é acessível ao americano da classe média, pois o governo incentiva a compra de casas, com juros baixos, prazos longos e deduções de imposto de renda. Quando um americano acaba de pagar sua casa após 20 anos, procura comprar outra para aluguel, senão o imposto de renda fica muito pesado para ele. Vale a pena investir em imóveis, pis há uma política antiga de produção de habitações e de movimentação financeira. O dinheiro circula e gera empregos. Todos ganham. Precisamos chegar a esse ponto.

3 comentários:

marina vicari lerario disse...

Oi, veja uma surpresa p vc no meu blog, em 22 01 2009. Marina.

Iverson disse...

Eduardo , estive em New Port Richey e vi as construções e são exatamente como vc relatou , achei muito legal a forma e os meios como são construidas as casas . O Tipo de madeira dos telhados e paredes internas , vc não disse , mas vi que são de "pinus" e tem umas placas que são do tipo que não conheço para fixação , nem sei se tem por aqui estas placas.
Mas não vi , quais materias que colocam para formar as paredes , para o isolamento e tal.

Paraens pelo texto e queria mais detalhes destas construções princiaplamente na Florida , onde estive em dezembro de 2008.
abraços
Iverson.

Eduardo Jorge Barbosa de Novais disse...

Iverson,
Obrigado por acompanhar o meu blog. Só hoje descobri estes comentários feitos. Tentei lhe responder através de sua página, mas não vi como. Acho que melhor seria para nos comunicarmos que você enviasse o seu e-mail para: ejbnovais@gmail.com