sábado, 27 de dezembro de 2008

O NATAL DOS AMERICANOS

Eles comemoram o Natal com o mesmo sentido que nós, já que são uma sociedade de cristãos, formada em sua maior parte neste Estado, por mórmons, protestantes de diversas igrejas (os negros geralmente são batistas) e uma grande quantidade de católicos, mais por influência da presença de mexicanos. Há ainda minorias formadas por imigrantes que para cá trouxeram o judaísmo, islamismo (vê-se mulheres com o “chador”, o véu típico que envolve a cabeça) e o budismo (principalmente pela colônia japonesa). O Natal é celebrado no dia 25 com uma ceia servida aos amigos e à família reunida ao final da tarde; na véspera não tem nada, é dia normal. É o dia em que se cozinha em casa, o que é raro no dia-a-dia do americano e isto é muito valorizado. A decoração tem o mesmo padrão adotado por nós, com mais luzes nas fachadas das casas e nas árvores dos jardins, e está presente também em automóveis e até motocicletas.
Alguns donos de casa se vestem de Papai Noel, que aqui se chama “Santa Klaus”. Todo mundo dá presente de Natal, apesar de não ter 13o Salário. As crianças esperam encontrar o seu presente ao pé da árvore de Natal e os adolescentes recebem dinheiro dos mais velhos (pai, avô, padrinho) em um envelope. A depender das condições financeiras e da idade do presenteado, uma nota de 10, 20, 50 ou 100 dólares. Há um movimento maior no trânsito de automóveis e de compradores nas lojas, na medida em que o Natal se aproxima. E não é só o brasileiro que deixa para fazer tudo na última hora. É inverno em todo o país e o sol faz seu percurso diário, sem passar pelo meio do céu. Ou seja, sua trajetória é lateral, não fica a pino, nasce e morre fazendo sombra só de um lado das casas.
Fizemos duas comemorações por aqui, uma brasileira na véspera com uma ceia noturna na casa de Cabi e a vespertina dos americanos na casa de um cunhado de Beta no dia 25. Sobre a brasileira, nada diferente do que seria aí, já que a tradição está preservada por minha irmã. Uma diferença é que não usam aqui as frutas secas, cristalizadas ou as de clima frio. Antes da ceia há biscoitos à disposição, principalmente os de chocolate conhecidos como “cookies”. Para a ceia fazem peru assado, purê de batatas, arroz, macarrão, batata doce, suflê de legumes e presunto defumado e caramelado. Toma-se vinho, cerveja , refrigerante ou água. A comida não é servida na mesa, fica nas panelas e travessas na cozinha. Quando é autorizado o início, cada um faz seu prato e vai sentar-se à mesa. Geralmente há uma mesa para as crianças, que engloba os adolescentes, e a mesa principal. A depender da crença, poderá haver uma oração de agradecimento proferida pelo dono da casa. A partir daí, comilança, fotos, sorrisos e brincadeiras próprias da reunião familiar. A sobremesa está à disposição na cozinha, com pavê, tortas (gostam muito da de maçã), sorvetes e bolos.
Ao terminar, cada um leva o prato até a cozinha, raspa o resto da comida no lixo, coloca o prato e talher na pia. Alguém então (que tanto pode ser homem como mulher) dá uma passada de água neste material, para tirar o grosso da sujeira, e arruma-o na máquina de lavar, onde já deverão estar as panelas. Todo o resto da comida é guardado em potes de plástico (genericamente chamados de “Tuperware”) e levado para a geladeira, para consumo dos de casa nos dias seguintes. Há uma cultura de não desperdiçar comida; tanto que nos restaurantes é comum pedir uma embalagem para levar o resto para casa. Ao final da operação, este material terá sido lavado pela máquina com água quente e detergente e estará praticamente enxuto. Aí então começa a operação final de acabar de enxugar com um pano de prato e guardar esse material, que deixará a cozinha como se nada tivesse acontecido ali. Ao final, um homem deverá ser solicitado para tirar o lixo e levar para fora, ao local próprio. Na casa dos americanos, depois da ceia e arrumação da cozinha, todos se reuniram em torno da árvore de Natal para fazer a brincadeira do amigo secreto. Todos os convidados foram informados que teriam que levar um presente de até 20 dólares, que servisse para homem ou mulher. Éramos 25 pessoas, alguém escreveu os números em pedaços de papel e os colocou para escolha dentro de uma vasilha levada a cada um. Os números então começam a serem chamados a partir do primeiro. Quem tem o número 1 vai até a árvore e escolhe seu presente, sem saber o que os pacotes contem e assim por diante. É permitido pegar, levantar, balançar, cheirar o pacote, só não pode abrir antes de escolher. Uma vez escolhido, deve ser aberto em público para que todos possam na sua vez optar entre pegar um presente fechado ou o de quem já o tirou antes. Quem perde para alguém o presente anteriormente retirado, vai pegar outro na árvore, de forma que todos desejam tirar o último número. Aqui também vale a brincadeira de fazer uma embalagem grande para conter um presente de tamanho pequeno. Já participei de troca de presentes como essa no Brasil, para surpresa das minhas irmãs que pensaram que isto só se fazia aqui. Só não teve presente para o cachorro da casa que de tudo participou com os cumprimentos de todos. Logo depois da entrega, todos se foram, de forma que às 20 horas tudo havia terminado.

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