sábado, 27 de dezembro de 2008

UMA VIAGEM AOS ESTADOS UNIDOS

9 DE DEZEMBRO DE 2004 EM MIAMI


Cheguei bem. Tudo saindo de acordo com o programado. Fiz um vôo diurno pela American Airlines, 8 horas de viagem. Isto depois de um vôo de 3 horas pela Varig de Salvador a São Paulo. Sai de Salvador com um horário, que teve de ser adiantado em São Paulo em função do horário de verão, para atrasar o relógio em 3 horas ao chegar em Miami. Em resumo, saí de casa ao amanhecer, estive viajando com a luz do sol, chegando ao meu destino ao anoitecer, às 18:30 horas. Nem deu tempo para cochilar, li as revistas de bordo com propaganda de vendas de produtos (alguns a gente fica tentando entender o que são) e o livro que levei comigo. Foi a primeira vez que viajei aos Estados Unidos em um avião que não era da Varig. Também foi um raro vôo vazio, com poucas pessoas e nestas ocasiões o serviço de bordo sempre melhora. E é aqui que está o diferencial entre as companhias aéreas. O serviço não foi ruim, mas o da Varig faz jus à fama de ser o melhor.
Na chegada ao aeroporto, os passageiros fazem uma longa caminhada, com subidas e descidas, seguindo setas e avisos para a Imigração. As filas diante dos inúmeros guichês estavam vazias, pois aquele não era um horário de grande número de chegadas como ao amanhecer. Sou chamado por um agente sempre frio no tratamento, como se não gostasse das pessoas que ali chegam, e apresento um formulário distribuído e preenchido no avião, junto com o passaporte. O funcionário consulta seu terminal computador, olha para a foto do passaporte e olha para mim. Pede para ver a passagem de minha volta devidamente marcada. Faz as perguntas de sua rotina (em inglês, se a pessoa não souber ele chama um intérprete): a que veio, quanto tempo pretende ficar, o que faz em seu país, etc. Quando finalmente está satisfeito das boas intenções do interrogado, bate um carimbo no passaporte e recomenda que não perca o recibo carimbado que acaba de lhe dar e que deverá ser entregue na saída do país. Sigo em direção à minha mala e encontro-a já me esperando. Ao sair com a mala, novamente tenho que mostrar os documentos a dois agentes e estou admitido em território americano.
Vi e ouvi um grupo de negros, carregadores de mala no aeroporto, falando uma língua incompreensível. Creio que falavam "creoulo", trazido da Jamaica ou de outra ilha caribenha. Todos que me atendem aqui, quando tentam se comunicar comigo, falam espanhol, pois meu tipo físico é hispânico. Há muita gente falando espanhol por aqui, que é a segunda língua dos Estados Unidos. Há vários canais de televisão em espanhol. Os hispânicos constituem-se na maior minoria racial residente nos Estados Unidos.
Na saída dirijo-me a um painel onde há fotos de vários hotéis e um telefone para ligação gratuita para os mesmos. Temos este serviço em Salvador, creio que mantido pela EMTUR (que é o órgão municipal que cuida do turismo). Persigo os menores preços, pois preciso de um hotel apenas para um pernoite. Sem sucesso. Quando não tinham vagas, não tinham um sistema telefônico que eu entendesse o que estava gravado. Saio em busca de um táxi e me deparo com o que me pareceu ser um guarda, mas que poderia ser um orientador do trânsito. Pergunto-lhe se ele sabia de um hotel bom e barato nas redondezas. Ele me indicou tomar um dos táxis azuis que cobram uma taxa tabelada, de US$ 9.70 para levar pessoas na área em torno do aeroporto. Peguei o primeiro táxi e dei a encomenda ao motorista: hotel perto, bom e barato. Ele levou-me a um simples com uma diária de US$ 70, sem os impostos que são sempre acrescentados.
O hotel é simples e típico daqui, não tem porteiro e um único recepcionista (sem farda) cuida de tudo. Não há sequer um segurança, há câmeras filmadoras de segurança. Ninguém para carregar suas malas. Pode-se entrar e sair sem ser interpelado. Mais adiante constatei também que não há telefonista, o sistema é automatizado. Para fazer ligações interurbanas ou internacionais seria necessário fazer o pagamento de uma caução. Pago antecipadamente com o cartão de crédito, conforme solicitado e mais 5 dólares em espécie como caução para receber o cartão magnético que abre a porta do quarto. Este dinheiro será devolvido na devolução da chave, quer dizer o cartão. Não tem restaurante e nem serve café pela manhã. Na portaria do hotel funciona quase uma loja de conveniências, com bebidas e guloseimas em máquinas automáticas. Outros produtos de higiene e para viajantes, são vendidos pelo recepcionista. No corredor há uma máquina que fornece gelo gratuitamente. Isso porque o quarto não tem geladeira, só um balde para gelo e um copo. Isto para você comprar sua comida e sua bebida e se servir. O quarto é bom, acarpetado e com cortinas em sua ampla janela. Tem um equipamento condicionador de ar que se apóia no chão, que esfria ou esquenta de acordo com seu desejo. Um pequeno guarda-roupa embutido e uma cômoda com 3 gavetões onde se apóia um televisor grande com controle remoto, que já estava lá. Uma cama de casal forrada com os lençóis, travesseiros e sua respectiva colcha, ladeada por 2 mesas de cabeceira, uma com o telefone. Evidentemente que há uma lista telefônica local e uma bíblia dentro de uma das gavetas. O mobiliário se completa com uma mesa redonda com 2 cadeiras. Um amplo banheiro, onde a banheira é ao mesmo tempo o box do chuveiro. Balcão grande com espelho e pia com torneiras para água quente ou fria. Aliás em todo os Estados Unidos só não há água quente na torneira do jardim. Saí para lanchar numa lanchonete próxima e dormi muito bem após uma rápida incursão pela televisão local.
É manhã do dia 9 de dezembro de 2004, faz sol e a temperatura em Miami está igual a daí. Escrevo em meu “laptop” ligado a uma tomada da parede. Estamos a 2 horas a menos que Salvador. Nem parece que é inverno, o céu é azul, com poucas nuvens e o sol brilha. No momento estou esperando o trem para Sebring, interior da Flórida, onde mora a irmã Martha. Farei uma viagem confortável, no ar condicionado, por 3 horas. A ferrovia aqui perdeu o lugar para o avião no transporte de passageiros. Meus colegas de viagem são negros, latinos ou velhos. Quer dizer, só os mais pobres usam trem por aqui. Paradoxalmente, os vagões dos trens são mais confortáveis que a classe econômica dos aviões. Quase todos os funcionários da ferrovia, a empresa chama-se AMTRAK, são negros e gordos. Estou me sentindo ótimo neste meu corpinho; aliás eu estou muito bem para os parâmetros locais. As mulheres negras são sempre criativas em seus penteados. Criam verdadeiras torres de cabelo e por vezes ainda o pintam de vermelho! É o bicho! Algumas assumem a negritude africana com trancinhas, outras o mantêm bem liso. Tem cada figura... A estação começa a ficar mais movimentada (muito menos que um aeroporto). Aproxima-se a hora da partida para Sebring.

Nenhum comentário: