sábado, 27 de dezembro de 2008

O AMERICANO NAS COMPRAS

Esta é uma sociedade montada em veículos. Por conta disso, todos tem um veículo, nem que seja uma bicicleta. O mais comum é que a pessoa tenha mais de um meio de locomoção. O comércio de rua que existiu no centro da cidade de Sebring, está nos seus momentos finais. Há lojas antigas ainda funcionando com uma baixíssima freqüência e outras já fechadas, com os imóveis a venda. Quase não se vê pessoas andando pelas ruas em qualquer parte da cidade. O comércio nos últimos anos desenvolveu-se ao longo de avenidas ou rodovias, onde há grandes lojas com grandes estacionamentos ou pequenos conjuntos de lojas, sempre com estacionamento. A forma de deslocar provocou a forma de comercializar dos americanos.
No seu dia-a-dia o americano freqüenta três tipos de loja: supermercado, loja de departamentos (a maior cadeia daqui é a Wall-Mart, que comprou o nosso Bompreço) ou "mall" (pronuncia-se: mol). Chama-se "shopping center" um conjunto de lojas. Nessa classificação poderíamos dizer que em Salvador, apenas o Iguatemi tem porte de "mall", o resto seria " shopping center". Eles são sempre parecidos em qualquer lugar do mundo: estacionamento, escadas rolantes, lojas de departamentos, lojas de roupa, praça de alimentação, cinemas, brinquedos para as crianças, quiosques, caixas automáticos, etc. As lojas formam o império das franquias (“franchising”). Mudam as vitrines com os produtos, pela sua diversidade, qualidade e beleza da embalagem. Os vendedores e o perfil físico dos freqüentadores mudam, pois os tipos físicos daqui são bem diferentes dos nossos. Muita gente branca, poucos hispânicos e poucos negros, que geralmente são mais feios que os negros brasileiros. Muitos são gordos. Os "mall" são cheios de velhinhos em compras ou passeando. Se a gente conhecer um desses "mall", vai ver que todos os outros são iguais no resto dos Estados Unidos. Muda muito pouco, só o tamanho, a arquitetura e a decoração.
O americano usa o cartão de crédito ou débito para pagar tudo. Usar dinheiro aqui é raridade. Até porque as operadoras de cartão dão estímulos para seu uso, como devolver em crédito 5% do que você gastou por ano em suas compras. Crédito este que pode ser usado para comprar uma passagem aérea para as férias, etc. O crédito de um americano é um patrimônio, se ele perde-lo terá dificuldade para viver. Aqui você vale o que você ganha por ano, não se pergunta o salário mensal, só a renda anual.
Eles compram vários de seus bens a crédito. Vivem pagando contas e tem vários carnês de pagamento simultaneamente; para os carros, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, móveis, etc. O que não pode é perder o crédito, senão não participa desta festa. Se a pessoa comprar um produto hoje e ele entrar em promoção na próxima semana por um preço menor, o consumidor tem o direito de pedir o reembolso da diferença que foi paga a mais. Eu assisti Martha solicitar um reembolso desse, que entra na forma de crédito na conta do cartão, e ser atendida com a maior presteza. O respeito ao consumidor aqui é antigo e não dependeu de uma lei de defesa do consumidor específica, aliás os produtores e prestadores de serviço morrem de medo de uma queixa de um consumidor. Isto pode acabar com o seu negócio, ou por indenizações caras a serem pagas ou pela queima da imagem do produto.
O supermercado é uma atração a parte, uma festa de cores. As carnes, frutas e verduras são de excelente qualidade e lindamente arrumados. Vi abacaxi por US$5 a unidade, o que dá uns R$14,00, esse é caro. Leite tem de todo tipo e qualidade, o mesmo para café, suco de laranja e Coca-Cola. Variam pelo tipo e tamanho da embalagem e pela composição. Para que se tenha uma idéia, tem Coca-Cola: dietética ou normal, com ou sem limão, com ou sem cafeína, com vários sabores (tradicional, cereja, framboesa, etc.) e em várias embalagens. Eles têm até uma latinha, que é a metade da lata de refrigerante que conhecemos, uma espécie de meia-lata. As prateleiras são uma festa de cores, sempre com grande variedade de comida pronta. A área de freezers verticais com porta de vidro é bem maior que a dos nossos supermercados, cheios de comida congelada. Leite e Suco de Laranja são vendidos em grande variedade de tipo e embalagem, principalmente em galões (3,75 litros) no tamanho do local onde é guardado, na grossa porta da geladeira duplex. Chama a atenção que estes líquidos não azedam e tem gosto natural. Não temos que nos preocupar em quantos dias faltam para o produto perder a validade e cair numa cilada. A mesma coisa acontece com o pão, que independente de ser guardado dentro ou fora da geladeira, não fica duro rapidamente.
Ainda sobre o respeito aos velhos, há sempre uns na entrada e na saída para saudar os clientes. Na entrada nos saúdam e nos dão folhetos com as promoções, na saída nos perguntam se fomos bem atendidos e nos desejam bom dia. São trabalhadores que são aposentados, mas não quiseram ficar em casa sem fazer nada. É grande a quantidade de comerciários mais velhos, como balconistas, caixas, promotores de venda, demonstradores, embaladores, repositores, etc. Atenção, eles tem embaladores, ao contrário do que os donos de supermercados no Brasil nos dizem. Se você quiser ser atendido mais rapidamente, em alguns supermercados há caixas com auto-atendimento. Você mesmo passa os produtos no leitor de código de barras, paga com seu cartão de crédito e embala suas compras. A operação é toda filmada com câmeras de vídeo estrategicamente posicionadas, não há empregados nesses caixas.
Procurando por qualquer produto brasileiro, fui à seção de café. Fiquei feliz quando encontrei os produtos da Nestlé e pensei comigo mesmo, estamos aqui. Não estávamos, o café ou é colombiano ou canadense. Nenhum produto da multinacional Nestlé do Brasil vem para cá. Estou tomando diariamente um chocolate em pó chamado Nesquik, que temos aí, onde preferimos o Nescau, que por sua vez não tem aqui. Fui à seção de bebidas em busca da nossa cachaça, encontrei no máximo uma garrafa de "aguardiente" venezuelana. Só fui encontrar um produto brasileiro na seção de carnes enlatadas, o "corned beef". Produto que só consumi na época de jovem quando ia acampar ou fazer um piquenique, naquele tempo eu comprava a viandada "Swift".
A imagem de que se come mal aqui, não é correta. A não ser que seja um turista "casquinha" ou de recursos limitados. O que nos prejudica é o câmbio de cerca de R$2,70 para cada US$1. A maioria das refeições ou pratos em restaurantes comuns fica em torno de uns US$10, o que para eles aqui é o padrão há anos. Se você for a uma churrascaria brasileira de rodízio, que fazem um tremendo sucesso nas cidades grandes daqui, cobram US$40 por pessoa, aí sai caro para nós. Já estive aqui nos saudosos tempos da paridade entre o real e o dólar e comi prato de camarão em restaurante com melhor qualidade e menor preço que no Brasil. Mas os americanos comem muito carboidrato e frituras e tem muitos obesos. A seção de petiscos e tira-gostos, daqueles que se come durante um filme na televisão, é uma das maiores nos supermercados.
Para se comprar material de construção, temos grandes lojas como a "Home Depot", que equivaleria no Brasil a uma "Tend Tudo", bem melhor é claro. O frete do material não está incluído no valor da compra, tampouco há prestadores de serviço à porta. Mas, a loja aluga caminhonetes ou pequenos caminhões para o cliente dirigir, por preços bem em conta, em torno de US$10. Nestas lojas, compra-se tudo para uma construção. No caso de areia ou brita, estão ensacadas da mesma forma que o cimento, em pesados sacos de papel grosso. Não há vergalhões de ferro para fazer uma viga, tem as vigas já prontas em dimensões padrão para a construção civil daqui. Há blocos de cimento para fazer paredes, janelas e portas prontas e já montadas em seus respectivos portais, cerâmicas, plásticos que imitam cerâmica para pisos e paredes, fogões, geladeiras, cozinhas, armários em geral, luminárias, sistema de refrigeração, ferramentas e aparelhos usados na construção, etc. Se a pessoa quiser, tendo uma planta da sua construção, pode ir comprando tudo numa loja dessas e construir sua casa. É claro que possivelmente lhe faltará habilidade para tanta coisa, pois americano se especializa naquilo que faz. Eles sabem muito sobre o pouco que fazem.
Tem ainda o comércio relacionado à morte. Os cemitérios são particulares, do tipo parque, sem muros ou vigilância especial. A gente passa por eles de automóvel, sem quase percebe-los. É normal a pessoa comprar seu funeral com antecedência, como no caso da minha irmã e seu marido. A cremação do corpo é uma opção antiga por aqui. Visitando alguns túmulos no chão, vê-se a placa com o nome da pessoa, suas datas de nascimento e morte, e o lugar reservado para receber os dados de seu cônjuge quando morrer. A pouco Martha me disse que foi fazer as unhas das mãos. Eu lhe perguntei: "Quanto custou?". Ela me disse: "Barato, 20 dólares" e emendou: "Caro mesmo é fazer o cabelo, com corte e pintura custa 80 dólares". Façam a conversão aí o dólar a R2,70, dá: mão por R$54,00 e cabelo por R$216,00. As mulheres têm uma idéia precisa do quanto custa isto.

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