sábado, 27 de dezembro de 2008

A CHEGADA EM SEBRING

O trem atrasou, o que não é normal. O horário de chegada previsto era britânico, 13:51 s. E eu pensei que assim aconteceria, com a precisão que este minuto indicava. Atrasou uns 40 minutos; agora eu aqui, comparando com a imprecisão brasileira. Não importa, foi uma boa viagem. Desço do trem e vejo ao longe Martha, ela está linda, com cabelos cheios de reflexos louros (técnica usada para esconder os brancos). Vou ao seu encontro e da minha mala. Martha está cada dia mais parecida com Ana Elisabeth, a Beta, com quem estarei no Arizona na próxima semana. Ela é mais alta que eu e 8 anos mais jovem. Um abraço e um beijo na face, um pouco de carinho, uma pequena parada para nos olharmos nos olhos. Foi um encontro após 2 anos de afastamento. Sem grande emoção, só sorrisos. Nossa diferença de idade não gerou laços tão fortes quanto com as irmãs do Arizona, que foram minhas companheiras de infância. Veio me buscar só em seu utilitário de luxo, é uma caminhonete GMC Yukon com 7 lugares. É alguma coisa parecida e melhor que uma Blazer brasileira. Quando cheguei à sua casa vi que ela também tem uma BMW esportiva conversível de 2 lugares.
A cidade é pequena e à beira da estrada e da ferrovia que cortam o estado da Flórida ao meio, em direção ao norte do país. Tem cerca de 50.000 habitantes e muitos lagos. Conheço Sebring há quase 10 anos e cada vez que venho aqui está maior. Novas avenidas, casas, comércio, gente (na maioria velhos aposentados fugindo frio do norte do continente). Sempre me impressiona a limpeza das ruas, calçadas e a pavimentação impecável das ruas. Simplesmente não há buracos nas ruas ou calçadas. Aqui ou ali se pode encontrar uma depressão ou rachadura no asfalto. Não tem areia acumulada nos cantos, todos os gramados públicos ou privados estão sempre aparados e limpos. Não há terreno baldio, às vezes há terrenos com a vegetação natural preservada. Os terrenos são gramados e estão por aí, sem muros, avisos de que tem dono ou cercas. Se um morador deixar que sua grama fique alta, a prefeitura manda uma empresa privada de jardinagem fazer o serviço e depois manda a conta e uma multa. Se a pessoa aqui deixar de pagar algumas multas, inclusive de trânsito, a polícia prende-o e leva-o para um juiz dar uma sentença na hora. Pode ficar preso e será multado pela prisão.
A cidade tem "mall” (shopping center), cinema e quase todas as franquias das principais cadeias de comida e lojas em geral, tais como: material de construção, locadoras de veículos e de filmes (Blockbuster), revendas de veículos, material para mascotes (pets) e roupa. Tem revendas (dealers) da Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki. Só que todas da linha náutica, vendem lanchas, jet-skis e, às vezes, quadriciclos. Aqui ainda não tem "dealer" da Harley-Davidson, só oficinas particulares onde podemos ver algumas em manutenção. Uma das atrações da cidade é o autódromo, vizinho a um aeroporto municipal para aviões de pequeno porte. Neste autódromo é realizada anualmente uma das corridas da Fórmula Indy, que creio chamar-se agora de Nascar. Aquela que vários brasileiros correm e Tony Canaan é o campeão. Emerson Fittipaldi também já correu nesta categoria. Não é nenhuma cidade grande, mas não se morre de tédio por aqui. As televisões por satélite ou a cabo não permitem; e ainda tem a Internet com banda larga e tudo mais.
Há muitos condomínios de casa integrados a campos de golfe. Os velhinhos saem de casa cedo, pilotando um carrinho elétrico para golfe e levam uma cesta com comida. Por volta do meio dia, param com os colegas numa sombra e fazem um piquenique. Passam o dia jogando neste grande quintal de suas casas que é o campo. Um dos melhores condomínios que conheci é exclusivo para maiores de 60 anos e é proibida, por convenção, a residência de crianças, é uma comunidade para idosos. No máximo os netos podem passar as férias, mas não podem morar. Há muitos condomínios de casas que ficam vazios durante o período de verão no norte. As casas pertencem a casais de velhos que moram no norte dos Estados Unidos e até no Canadá, que só vem para cá quando o frio ataca por lá. Passam de 6 a 8 meses cá e o resto lá, pois aqui o frio é leve e não neva, não acentuando os problemas reumáticos. Este conjunto de velhos aposentados constitui-se num excelente mercado aos prestadores de serviço, pois o que os velhinhos não podem fazer, geralmente podem pagar.
Apesar do conforto material, ninguém tem empregados. Ou se contrata um prestador de serviços para cada tarefa ou se faz. Tem faxineira diarista, jovens para fazer uma limpeza no quintal, bombeiro (encanador), eletricista, jardineiro e artesão para tudo. Ninguém pega no pesado, tem equipamento ou ferramenta para fazer qualquer coisa. Contrata-se alguém para uma tarefa, se paga e pronto. Quando eles falam em desemprego por aqui, eu acho graça. Aqui tem emprego para todos, velhos e novos, basta querer. E todos os empregos permitem uma remuneração que proporciona uma vida digna. Jovens ganham o suficiente para sair da casa dos pais e morar sozinhos. Todos têm automóveis, pois a cidade só tem ônibus escolar para levar e trazer as crianças da escola onde passam o dia. Eles também gostam de usar bicicletas. Vi vários triciclos a pedal, construídos por fabricantes de bicicletas, usados principalmente por velhinhos. Várias ruas tem ciclovia ao lado.
O dia só amanhece às 7 horas e anoitece por volta das 18. O expediente dos que trabalham começa as 9 e termina às 17 horas. Fazem um pequeno intervalo na hora do almoço para comer em lanchonetes. Ninguém faz almoço em casa, é a terra da refeição rápida, do sanduíche. É mais barato comer fora do que em casa. À noite é possível encontrar nos restaurantes e bares, todas essas pessoas que contratam ou são contratadas. Tomam umas cervejas, comem alguma coisa a mais que um sanduíche ou bebem uma sopa. A vida noturna começa e termina cedo das 18 às 22 horas, aqui vale aquele termo que importamos: "Happy Hour". Encontram-se na noite, velhos e moços, homens e mulheres, casais de todas as idades. Tem até "sapatões"; só ainda não distingui os "veados", mas perguntei a Martha. Tem? Tem, como em todo lugar. Aqui há poucos negros ou hispânicos, a maioria é americano típico ("red neck", ou pescoço vermelho). Ninguém desiste da vida, encontramos velhos e inválidos em qualquer lugar. O pai de Mark enviuvou há 2 anos atrás com 76 anos; pois já casou de novo e mudou-se para a casa da nova mulher em outra cidade. Conheci aqui uma irmã dele com 70 anos que também ficou viúva e está à procura do novo marido. Sem nenhuma afetação ou desespero, é só uma questão de tempo. Eles não tomam conhecimento do tempo, o envelhecimento é só externo. A vida continua.
A cidade ainda apresenta as cicatrizes de 4 furacões que passaram por aqui no mês passado, depois de 40 anos de ausência. Várias placas estão tortas, outras derrubadas. Há casas com o telhado coberto com plásticos, telhados arrancados ou mutilado pela queda de árvores. Só algumas casas mais antigas têm telha cerâmica, eles cobrem a casa com folhas de madeira compensada e fazem uma impermeabilização com mantas de asfalto, depois recobrem tudo com uns pedaços pequenos de madeiras simetricamente distribuídos. Os telhados das garagens e galpões são feitos com folhas grandes de alumínio ou amianto colorido. Geralmente não há muros ou cercas, às vezes apenas no quintal. Mas não há uma preocupação de fazer uma barreira intransponível. As casas não têm grade, eles fecham as portas sem preocupação em passar a chave, mais para evitar o vento frio, proteger a privacidade ou evitar a entrada dos animais. Se a porta estiver aberta , a casa pode ser visitada pelo cão ou gato do vizinho, ou um esquilo, imortalizados por Walt Disney como Tico e Teco. Em outra ocasião falarei sobre a família americana e seu modo de viver.

Um comentário:

Unknown disse...

Comprei 2 shihtzus no Canil Taquary, de Eliana
e foi lá na casa dela que te conheci
vc não dele lembrar
Sou Dalila, esposa de Pedro
de qualquer forma, ví muitos canis em seus amigos
Te add porque lembrei de vc e acreditei que por ser cinófilo poderia acrescentar algo para o meu Canil e até ajudar a tirar dúvidas quando necessário, porém se não quiser aceitar compreendo.

Atenciosamente,
Dalila Alves